31.10.05

Não chega discordar -é preciso assinar!

Se não concorda com a destruição da Av. dos Aliados e da Pr. da Liberdade, e se ainda não assinou o Manifesto, faça-o! Envie um mail para portoaliados@sapo.pt pedindo informações. Pode também, se quiser, colaborar na recolha de assinaturas. (Não está a par do que se passa? Informe-se! Consulte os ÍNDICES! )
Leia as transcricões das Audições na Comissão Parlamentar da Educação, Ciência e Cultura no âmbito do Manifesto/Petição: aos representantes do IPPAR e da METRO .

Opinião # 16 - Nostalgia na Avenida dos Aliados

por Beatriz Pacheco Pereira (crónica publicada n' O Primeiro de Janeiro e aqui transcrita integralmente com autorização da autora)

«Ontem fui ao café Guarany em plena avenida dos Aliados, ali mesmo no meio, entre a parte em obras e o que ainda resta da antiga sala de visitas do Porto.
Fui lá por duas razões. A primeira, a apresentação do programa de animação lançado pelo Fantasporto para a Baixa da cidade, a outra, à noite, a apresentação do livro de Danyel Guerra sobre um poeta nascido no Porto no século XVIII chamado Thomaz António Gonzaga. Das largas horas que lá passei saiu este texto, talvez o mais triste que alguma vez escrevi sobre o Porto.

Animar a Baixa do Porto- e os cartazes da Câmara andaram por aí, e muito bem - é um imperativo.
Do que me tenho apercebido, em inúmeras conversas com cidadãos e nem todos anónimos, toda a gente concorda que temos uma cidade lindíssima e subaproveitada em todos os ramos da sua actividade.
Para mim, que já tenho una anos de vida, não posso dizer que as coisas já foram melhores. Não foram. Mas os últimos tempos mudaram tanto o mundo e a vida das cidades que há que ser cada vez mais activos na transformação. E, porque não se pode perder dinheiro - as cidades representam gigantescas oportunidades comerciais – há que pensar bem e executar melhor.
Assim, e de acordo com essas conversas, surgiu a necessidade premente de, com uma política de habitação, claro, se proceder urgentemente à concertação dos agentes económicos da cidade com os agentes culturais. Porquê? Concertar o quê?
Imaginemos a situação dos restaurantes da baixa. Num dia a abarrotar porque há espectáculos no Coliseu, no Rivoli, no Sá da Bandeira, no Teatro S. João. Há pessoas que não conseguem entrar porque já está tudo cheio e, em vez de uma boa refeição de comida portuguesa, que há optimos restaurantes na zona, vão comer uma sande ao café para não chegarem tarde aos espectáculo. Não há, assim o usufruto dos espaços, tudo resolvido a correr. Não se deixa dinheiro, não se cria emprego, continuando um equilíbrio instável que não permite a renovação dos espaços, a modernização dos equipamentos.
Há soluções simples para isto, e sem custos de maior. Uma é a coordenação da programação das casas de espectáculos à noite. Outra a incentivação dos agentes culturais da cidade de modo a conseguirem produzir espectáculos diários que encham a Baixa de interesse a qualquer hora.
Já repararam que não há no Porto companhia nenhuma, de teatro, bailado, folclore incluído, ou produtores da área da música que tenha condições (sede, estabilidade financeira e vontade de trabalhar) que consiga produzir um espectáculo diariamente?
Que não há música portuguesa nos nossos restaurantes, bares, ruas? Que quase tudo o que passa pelo Porto é importado e vai-se embora depois de espectáculos únicos, e muito pouco dinheiro fica nas mãos dos portuenses?
Que nem os turistas, que passam os dias em viagem standardizada pela cidade e arredores - um tour em autocarro descapotável, uma ida às caves e pouco mais, tudo por conta de agentes de viagens, estrangeiros na maioria - não têm nada que fazer à noite? Ir, talvez, à Ribeira ou ao Cais de Gaia, uns copos, uns souvenirs comprados em lojas (raríssimas) de artesanato mal apresentado, e o regresso ao hotal. Dois, três dias, e saem.
O dinheiro que podia ter cá ficado, não fica. O turista que vem em “pacote” não regressa depois, sozinho.
Os mais endinheirados não existem por cá. Onde está o turista americano, japonês, coreano, sueco, norueguês, árabe?
Espectáculos, nem vê-los. Encarneirados, os turistas deixam-nos sabendo que o país tem grandes contrastes e pouco mais. Sem saber o que é a nossa música, a tradicional e a mais moderna- que não passa nas rádios, nem é sequer, habitualmente, música de fundo de elevador ou supermercado.
Os turistas e outros visitantes desconhecem os nossos criadores, que vivem neste momento a mais funda e mais escondida das crises, sem perspectivas de reanimação da sua actividade, seja teatral, literária ou nas artes plásticas – que cá deixam-se cair os talentos como se deixou cair, durante décadas as nossas casas.

Fica-lhes apenas na memória a "granitização" da cidade, a desarrumação, os graffittis, alguns monumentos e paisagens espectaculares como em nenhuma outra cidade do mundo. Muito carácter mas também muito caos. Nem leva consigo um guia do pouco que poderia ter visto- porque guia completo, não há.
E como os habitantes da cidade também não "consomem" da Baixa em toda a sua potencialidade, o estado das coisas prolonga-se.
Mas há soluções. Um exemplo. Imagine-se a Praça dos Poveiros sem os inúmeros estranhos cidadãos que lá consomem os seus tempos livres até caírem de bêbedos, imaginem, pois, com os seus espaços comerciais todos ocupados com restaurantes de charme (pouco espaço, muita qualidade de comida), com esplanadas de apoio com aquecedores em tempo fresco, gente a tocar música clássica e popular mas portuguesa, muita luz e verdura. Haveria ainda lojinhas de artesanato e antiguidades, algo para passear os olhos antes do jantar e do espectáculo. Tudo na mesma zona. Aliar isto a alta qualidade de serviço e equipamentos e tinhamos um centro de actividade excelente de apoio aos espaços culturais da zona.
Assim é no centro de Paris, em Berlim, em Londres, em Varsóvia – e esta cidade foi totalmente destruída na 2ª Guerra Mundial, agora reconstruída com rigor na traça original, cheia de tipicismo e vida no seu centro urbano.

E agora, a Avenida dos Aliados. E a tristeza.
Estava na soleira do Guarany e lembrei-me de uns estrangeiros que lá levei e me expressaram a sua admiração por termos sabido conservar este café na traça original. Senti-me bem. O Guarany está modernizado mas não perdeu personalidade. Olhei então para a placa ajardinada central em frente, a que ainda está intacta, e vi a estátua dourada de uns meninos com uma cesta de flores à cabeça, bem iluminada, rodeada de um fantástico canteiro de plantas verdes e avermelhadas, com bancos de jardim tradicionais à volta, um primor de romantismo e calma. A emoldurar tudo, o pavimento artístico, em desenhos impecáveis executados há muito.
Tudo aquilo vai desaparecer em breve.
Senti-me a olhar um bilhete postal do passado, com a agravante de saber que ainda estou no presente. Que ainda posso ir fotografar aquilo durante uns dias, umas semanas. Que nada daquilo, da parte inferior da Avenida, foi abandonado pelos que dela habitualmente tratavam. O primor lá está, a exigência da qualidade de trabalho, a não recusa do passado em nome de uma modernidade duvidosa. Vi a harmonia das cores, do ambiente que se respirava naqueles metros, já poucos, e pensei que se devia conservar aquele espírito. Que salvassem ao menos, o espírito do local.
A modernização era imperiosa. Toda a gente sente isso. Mas a descaracterização não.
Aliás, no dia em que a nova praça, aquela que os responsáveis dizem vir aí, a que vai ser traçada por Siza Vieira, for apresentada aos portuenses, as pessoas conscientes da cidade vão aperceber-se da perda a que assistiram, na maioria sem nada fazer.
Eles vão aperceber-se da indignação que sentem mas que não expressaram na altura própria.
Vão sentir a perda do património cultural que representa a calçada portuguesa - as pedrinhas branca e pretas tão abundantes no Porto ainda há cinco anos atrás e que agora já não existem em lado nenhum. Repararam? As obras recentes "limparam-na" da cidade toda. E mesmo que se diga que veio de Lisboa, Lisboa não é solo nacional como o Porto?
Esses portuenses que não se expressaram na devida altura, nunca repararam na beleza dos canteiros da Avenida, nos desenhos artísticos que as plantas e as flores faziam, produto de jardineiros de altíssimo nível, do melhor do mundo, que tinham, decerto, orgulho do seu trabalho.
Essas pessoas, para não admitirem o seu falhanço e a sua responsabilidade na perda da identidade da cidade, irão elogiar o novo traçado, o pavimento de granito e até dirão que o calor que se vai fazer sentir na praça não é tanto assim.
Dirão também que a estátua de D. Pedro IV, que vai mudar de orientação, era uma medida necessária e muito acertada. E que não vai custar tanto assim.
Dirão igualmente, e veementemente, que Siza Vieira é o maior paisagista português. Bom arquitecto, muito bom até, tenho de reconhecer. Mas paisagista?
Muitos destes portuenses que vão aprovar o projecto previsto, são gente da política, os que aprovaram os projectos, outros os que nunca gostaram de História na escola. Os que não sabem o que faz viver as cidades, os que preferem Cancun a Londres.
Os outros, Dr Rui Rio, têm de ter a coragem de bater o pé (melhor, continuar a bater o pé) e dizer o que qualquer portuense decente e consciente dirá.
Que esta Avenida deveria ser respeitada nos seus aspectos artísticos actuais.

Que exige a frescura dos canteiros e os desenhos artísticos do seu chão tradicional. E, porque não, uma fonte. Pode ser a dos Leões que tão desenquadrada está agora no seu solo modernaço.

Dr Rui Rio, será a Avenida dos Aliados menos importante para a cidade que terminar o Túnel de Ceuta? Se fôr, importa perguntar: QUEM TEM MEDO DE SIZA VIEIRA?»


Crónicas anteriores de Beatriz Pacheco Pereira sobre a "requalificação" da Avenida e da Praça: Opinião # 6 - "Todos pela Avenida dos Aliados" ; Opinião # 15: Avenida dos Aliados- pobre de ti…
(arquivado em ALIADOS- OPINIÃO )

29.10.05

Praça da Liberdade - Fim de tarde de Verão

Praça da Liberdade- Julho de 2005

27.10.05

"Aux Champs Élysées..."


Avenida dos Campos Elísios (Agosto 2005) com as suas múltiplas filas de árvores talhadas "à la marquise" : a nascente o Arco do Triunfo, no lado oposto a "Place de La Concorde" que dá acesso ao "Jardin des Tuileries" .
Sempre que os arquitectos ou outros responsáveis se dignam falar da "requalificação" que estão a querer impôr na zona mais emblemática da cidade do Porto (e que, alegadamente, se anda lá a "burilar" há mais tempo do que pensávamos...), não faltam exemplos de praças e avenidas estrangeiras. Até com uma fonte inspirada em modelo parisiense nos querem presentear; assim como francês, mais concretamente como os dos Campos Elísios, pretendem que seja o "corredor de árvores" da Avenida dos Aliados, onde se projecta "subir o verde", eliminando-o do chão.
Cores e flores? Nem vê-las! Até porque «"Nos Campos Elísios não há canteirinhos", acrescentou Souto Moura, mostrando uma fotografia do coração da capital francesa.(...)»

.
Pois não! Ladeando um terço da grande avenida há um lindíssimo jardim cheio de relvados e canteiros floridos, fontes, e árvores centenárias!
"Eh ben! Ça alors !? Oh la, la..."
Publicado também no Dias com árvores

Frase # 19

Germano Silva a propósito da mostra «A Favor do Porto», constituída pelo seu espólio doado ao Arquivo Histórico do Porto:
«"Sabendo nomeadamente que a sua rua tem história, as pessoas preocupar-se-ão em preservar esse lugar”, advogou, considerando ao mesmo tempo que "a cidade só tem a ganhar com isso". »
(transcrito de O Primeiro de Janeiro )

26.10.05

Frase # 18

Rui Rio na tomada de posse dos órgãos municipais:
«"A próxima reabilitação dos Aliados e de todo o espaço entre Gonçalo Cristóvão e a Ponte de D. Luís I é uma obra que, dentro em breve, irá trazer ao centro do Porto um espaço de grande qualidade e, por isso, de especial atractividade", (...) » (transcrito do Público -Local Porto /26-10-05)

Outras FRASES

ÍNDICE- ACTUALIZADO

ALIADOS- CARTAS /QUEIXAS ENVIADAS e respectivos resultados

No blogue da CAMPO ABERTO

Aqui nos ALIADOS

24.10.05

Os Meninos dos Aliados


Postal antigo- Estátua dos Meninos, de Henrique Moreira na Avenida dos Aliados
Outros fotos da mesma estátua: Os jardins dos Aliados # 1 ; As estátuas da Avenida

Opinião # 15: Avenida dos Aliados- pobre de ti…

Por Beatriz Pacheco Pereira
(Artigo publicado na imprensa -e que inexplicavelmente nos escapou e que ainda nao consegui encontrar - mas transcrito agora com a devida autorização da autora)
«Estou contra. Estou no contra. Mas digo porquê.

Anunciaram-se recentemente as alterações que se pretendem fazer na Avenida dos Aliados- pavimentos de granito de um lado ao outro e de alto a baixo, candeeiros novos, destruição dos canteiros em favor de árvores em linha recta, uma fonte em socalcos, eliminação radical da tradicional calçada portuguesa preta e branca com desenhos de arcos e florões.


Na Praça da Liberdade, o tratamento não será diferente, com um pormenor importantíssimo: D. Pedro IV, do alto do seu cavalo, deixará de ver o Palácio das Cardosas mas ficará a olhar a Câmara Municipal do Porto. Haverá ainda a tal unificação com a avenida propriamente dita com a pavimentação em granito “escuro” - note-se esta indicação de cor, como se todo o granito, cinzento, rosado ou quase negro, não fosse ele todo escuro.

Atiraram-se dois argumentos: (1) a necessidade de “requalificação” da Avenida e da Praça da Liberdade e (2) o peso do nome dos arquitectos indicados, Siza Vieira e Souto Moura.
Dada a informação geral, para quem ande distraído, vejamos o que poderá acontecer. E a minha opinião é tão boa como qualquer outra. Para mim, acontecerá, muito simplesmente o que aconteceu recentemente em três pontos paradigmáticos do centro da cidade do Porto.
A Praça da Batalha, a Praça dos Leões e o Jardim da Cordoaria.
Primeiramente, a descaracterização em nome da modernização. Sobretudo dos solos - que, quanto sei, ninguém ainda se preocupou em “requalificar” os edifícios que rodeiam estas praças. Será que o passo seguinte passará também na inclusão de espelhos, vidros anti-reflexo e revestimentos de alumínio e granito( pois, então!?) nas fachadas que estão “antiquadas” como acontece com a da Faculdade de Ciências, da Cadeia da Relação ou da Igreja de Santo Ildefonso? Ou, já agora, da Camara Municipal do Porto?

Porque será que esta febre de modernizar a todo o custo só se passa na horizontal- os solos- e não se passa na vertical? Ingenuidade não abunda por aqui…

Note-se ainda a erradíssima consequência destas pavimentações negras , causadoras das temperaturas altíssimas que vão tornar a cidade um inferno de calor, agora que todos sabemos que a seca e a desertificação são fenómenos incontornáveis no nosso país. Ninguém parece importar-se com isso mas eu li recentemente um estudo sobre a diferença de temperaturas em vários pontos da cidade e já dava uns grauzitos a mais para o centro… Ou será que só eu li isso?

A inclusão de infraestruturas de luz, saneamento, irrigação, etc, esquecendo o conforto dos cidadãos. Exemplos gritantes são o sistema de luz de chão na Cordoaria, as cadeirinhas de ferro na Batalha, as cadeirinhas do jardim ao pé do Castelo do Queijo, os blocos de granito por todo o lado a imitarem bancos de jardim.
E já agora, quem, da indústria de extracção dos granitos, andará a ganhar rios de dinheiro com esta granitização da cidade?

“Requalificar” a Avenida dos Aliados e a Praça da Liberdade, tal como tem sido apresentado nos últimos dias, não passa, meus senhores, pelo maior usufruto destes espaços. Se há uma estação de metro que vai abrir aí, se há uma estação de comboios nas imediações, esses são de facto os factores principais de usufruto dessa zona capital da cidade, zona de clivagem entre o lado oriental e o ocidental. Esta zona é um polo natural de passagem dos habitantes, pela própria geografia do local e pela tradição.

Ora, ouvi dizer que se vão anular os jardins e a calçada para maior usufruto do espaço pelas pessoas. Para olharem para onde? Para o chão liso e sem elementos estéticos? Terão mais elementos de interesse que os canteiros artísticamente (diria até, amorosamente) cuidados que ali podíamos ver? Já agora, em nome de que modernidade? Que vão fazer a esses artistas da jardinagem que coloriam esses canteiros? Desemprego? Ou irão trabalhar para outras cidade que amem mais a natureza?

No caso da calçada, ouvi muita gente dizer que as pessoas até escorregavam nela. Certo. Podia ser perigosa com a chuva. Certo. Mas a modernidade não trouxe a informação de que há revestimentos pulverizáveis que anulam esse factor escorregadiço. Ou serei só eu que sei? Vejam-se os postais do Porto antigo que o jornal “O Comércio do Porto” está a publicar e veja-se como era bonita a Praça da Batalha com a sua calçada às ondas. E a Praça da Liberdade, ainda hoje.


Será que é obrigatório, em nome da qualidade (discutível quanto ao paisagismo, para mim) dos arquitectos em questão, destruir o que é intrinsecamente nosso, como é o caso da calçada portuguesa?
O que será que os turistas irão ver de nosso , de original, quando pisarem a nossa nova sala de visitas depois da “requalificação”? Talvez as fachadas afrancesadas dos bancos que, infelizmente nada têm de português e há-as aos molhos em Paris, por exemplo?
Consta que os turistas que passam pela cidade se demoram dois dias no máximo. Pobres portuenses. Com estas obras, tal como estão previstas, passarão de autocarro a caminho de Gaia, para ver como é bonito o Porto visto do outro lado do rio… Que é o que fazem já no Jardim da Cordoaria, sabiam?

O argumento de que praças europeias como a Piazza Navona ou os Campos Elísios não têm jardins, além de incrivelmente pretensioso, parece-me de uma quase desfaçatez. Porque será que se deve imitar o que está errado? Eu gostaria de ver os Campos Elísios com muito verde, para além das muitas árvores que já tem, claro. Mas será que quem diz isso, alguma vez reparou na enorme extensão dessa famosa avenida (e não praça)? E a Piazza Navona em Roma é uma praça renascentista que está absolutamente de acordo com a época dos edifícios à volta, com as temperaturas altas que lá se sentem e com as fontes da mesma época que refrescavam o espaço…
Agora, alguém pensa que se poderão fazer esplanadas na Avenida dos Aliados? Só se for para se encherem as tais vastidões graníticas de quiosques da Decaux . Porque que eu saiba, não há muitos cafés instalados por lá. Bancos, sim, há muitos, lojas de artigos de fraca qualidade também.

E já agora, o que acho eu que se poderia fazer?
Para já, seguir o exemplo da Praça Carlos Alberto. Está “qualificada”- ou seja está modernizada. Tem tudo o que é preciso. Ordenamento do trânsito da zona, saídas de parque de estacionamento que muito irá revitalizar a zona. Tem calçada portuguesa e tem jardim onde, neste momento, as magnólias mandam. Poderá ser ainda melhor com o tal projecto de revitalização da zona de Cedofeita a ser implementado em breve. Está um espaço harmonioso quanto aos edifícios circundantes, que uma praça deve ser vista em toda a sua extensão, largura e altura.
(A propósito, para quando o restauro do edifício do café Luso que é também o da Candidatura de Humberto Delgado? Foi lá que o Fantasporto foi fundado…)
Esqueci-me de um pormenos importante. A Praça de Carlos Alberto ficou parecida com o que era dantes porque o dinheiro não chegou… Se não fosse isso, agora teria um belo espelho de água com muito granito à volta, e uns paralelipípedos de granito a condizer…

E na Avenida dos Aliados? Aqui vão ideias grátis.
Que mantenha e aumente mesmo o número de canteiros, que lá se façam concursos de arte floral, que as árvores voltem, de preferência com flor na primavera, que os candeeiros antigos regressem- os que havia antes dessas avantesmas de alumínio que só servem para os enfeites de Natal , que as entradas do metro sejam discretas e funcionais, que o trânsito continue a passar por pela Praça, nem que seja a caminho de uma Ribeira arranjada e limpa de poluição, ou por uma Câmara Municipal que se pretende emblemática, que sejam abertas vias para uma passagem rápida nos dois sentidos para os dois lados da cidade, que haja mais estátuas de pequena dimensão para mostrar os artistas da cidade- já foram a Copenhaga?
que a Praça da Liberdade se anime com feirinhas e eventos de pequena dimensão, e muito, muito mais.
Mas sempre a pensar no convívio, na fluidez, na beleza, na harmonia com o que já lá está.

Para se dar trabalho aos poucos estabelecimentos que resistiram naquela zona, para fixar as pessoas por lá um pouco mais de tempo. Para que o Café Guarani não seja exemplo único de recuperação pensada de uma zona onde há equipamentos de qualidade como a Brasileira, o Café di Roma, o Rivoli ou, futuramente, o Teatro Sá da Bandeira.
Para que os portuenses sintam que aquela é de facto, a sala de visitas do Porto. Para que gostem do que os seus autarcas fizeram com o poder que tiveram nas mãos. É verdade, e a Menina da Avenida? Onde ficará?»

Quanto à horrososa “requalificação” da Avenida dos Aliados que se anuncia, um desejo. Que o dinheiro não chegue…»
Beatriz Pacheco Pereira

22.10.05

Opinião # 14

Pesquisando mais uma vez nos jornais o (pouco) que se tem escrito sobre a Avenida e a Praça e o que lá tem vindo a ser "burilado" encontrei esta passagem de uma entrevista a Beatriz Pacheco Pereira (que sobre o assunto já aliás tinha expresso veementemente a sua opinião num artigo aqui aqui transcrito).

«Para além de fazer o retrato do país, escreve (nestas 67 crónicas) sobre a cidade do Porto, sobre "os que a amam e os que a detestam, fingindo amá-la". De que lado é que está?
Eu estou do lado dos que a amam e detesto os que a detestam. [risos]

Na crónica a que deu o título «O Bairrismo dos Provincianos», fala, a determinada altura, do “estilo português de ser do contra”. As suas crónicas, sendo raramente a favor, também se inserem neste estilo?
Sim, eu acho que a unanimidade é uma coisa muito inerte. Não tem vida. O ser do contra é muito fácil, no meu caso, porque eu tenho visto tanta asneira, nos últimos anos, em relação à cidade do Porto! A começar por uma coisa recentíssima: anuncia-se a requalificação da Avenida dos Aliados e não há um coro de pessoas que diga que isto é uma vergonha, que lá por ser do Siza Vieira ou do Souto Moura não pode avançar.
Não se pode modernizar o solo e dizer que depois a cidade fica mais bonita. E vão acabar com valores que são nossos: a calçada portuguesa, os jardins. Nós temos jardineiros que fazem aqueles desenhos muito intrincados nos canteiros. Ia-se a pé à Baixa, passava-se pelos canteiros, e via-se desenhos lindíssimos. O que é que nós vamos fazer àqueles artistas que concebiam aqueles canteiros? Vamos pô-los a jardinar no Parque da Cidade, onde pouca gente aprecia…
Mas as nossas artes vulgares, até mais populares e mais humildes, são valores da nossa cultura que o Porto não pode perder. Sou visceralmente contra o arranjo que está proposto para a Avenida dos Aliados, como sou visceralmente contra o que fizeram ao jardim da Cordoaria ou à Praça dos Leões.»


in Entrevista a Beatriz Pacheco Pereira a propósito de lançamento do seu novo livro de crónicas: Do Porto e do Olhar [Fólio edições] in O Primeiro de Janeiro (31 de Julho 2005)

20.10.05

Entregue à bicharada...


No verão, impressionada pelo desleixo, sujidade e abandono a que a "sala de visitas" do Porto estava votada, nomeadamente na zona dos bancos e devido ao número verdadeiramente espantoso de pombos, mandei vários mails a diversos departamentos da Câmara que nunca me respondeu nem nada fez. Para além disso enviei o link da entrada aqui publicada a alguns jornais e outras pessoas: o eco foi nulo! Não interessava a resposta pessoal, o que importava é que tivessem falado na altura, para que resultasse aquele sítio limpo!
Parece que agora se vão tomar algumas providências... Como diz o provérbio: mas vale tarde do que nunca!

E a propósito de silêncio ... Como é possível as pessoas continuarem caladas sobre o crime de lesa-património que se está a perpetrar nos Aliados? Assinaram? Sim, sabemos que muitos assinaram (já vamos em quase 7000 assinaturas recolhidas). Mas acham suficiente apenas assinar? Quanta gente, de todos os quadrantes políticos, quantas pessoas estão contra este projecto descaracterizador do Porto! Quantos mais repudiam a forma autocrática e sobranceira como foi imposto à cidade! Logo no início do nosso protesto fez-se uma sessão pública que reuniu cerca de três centenas de pessoas ! Pergunta-se: onde estão essas pessoas, muitas delas conhecidas? E as outras que entretanto tomaram consciência do que realmente está a acontecer? Não têm (mais) nada a dizer? Onde está "a gente" do património, os arquitectos, os historiadores, os artistas, os escritores, os intelectuais, os professores? Onde estão os "notáveis da nossa praça"? Alguns, poucos, manifestaram de outro modo também a sua opinião. Já estão satisfeitos? E os outros? É assim que honram a memória da Cidade? O que é que nas suas famílias transmitem às gerações mais novas, nas suas aulas aos seus alunos? Este encolher de ombros colectivo? Este conformismo? Este silêncio?
Sabem que mais...

19.10.05

Frase # 17

"Gostei muito. Eu quis atravessar a Ponte de D. Luís, porque acho que esta obra marca um momento muito importante para o Porto. É uma obra histórica que alia o desenvolvimento e a maturidade do sistema de transportes à protecção do património histórico, disse o chefe de Governo (...)" José Sócrates

Apoiado! E só se lamenta que esta preocupação pela preservação do património histórico não se tenha verificado nas obras de inserção urbana decorrentes da implantação da estação subterrânea dos Aliados numa zona da cidade em vias de classificação desde 1993 (inserida na área de protecção de Porto-Património Mundial .)

18.10.05

Audição no âmbito da petição de "Protesto relativo à intervenção urbanística no conjunto da Av. dos Aliados / Pr. da Liberdade no Porto": METRO

Transcrição da Audição na Comissão Parlamentar da Educação, Ciência e Cultura, aos representantes da METRO

Anterior-IPPAR

Comentário:
«É falacioso o Prof. Oliveira Marques querer fazer passar por "discussão pública" a sessão na Assembleia Municipal. Por duas razões:
(1ª) aquilo que a lei define como "discussão pública", e que não se fez neste caso apesar de a Lei a isso obrigar, tem prazos bem definidos em que os projectos são postos à consulta dos cidadãos e estes podem apresentar reclamações e sugestões;
(2ª) a participação do público na Assembleia Municipal está fortemente restringida, pois ele só pode intervir no final, quando já quase todos abandonaram a sala. É pois evidente que a lei que regula a discussão pública foi desrespeitada.
E, para compor o cenário, o mesmo Oliveira Marques admite que não vai ser cumprido o estudo do impacto ambiental. Legalmente, isso só tem duas saídas possíveis: ou se desiste do projecto em curso e se repõe a situação original; ou se procede a um novo estudo de impacto ambiental e só depois se fazem as obras (naturalmente condicionadas pelo resultado desse estudo).

Em conclusão: também a lei do impacto ambiental foi (ou irá ser) desrespeitada.
Será que em Portugal o cumprimento da lei é facultativo mesmo para as entidades dependentes de financiamento público?»

Paulo Ventura Araújo aqui

Audição no âmbito da petição de "Protesto relativo à intervenção urbanística no conjunto da Av. dos Aliados / Pr. da Liberdade no Porto": IPPAR

Ler a transcrição da audição na Comissão Parlamentar da Educação, Ciência e Cultura aos representantes do IPPAR

Comentário de
Paulo Ventura Araújo:
«Fica a ideia, no meio de muita barafunda, de que os representantes do IPPAR querem convencer os membros da Comissão de, apesar de imaginarmos que o projecto de arranjo dos Aliados só existe e foi divulgado desde o início de 2005, ele já estar em "burilação" desde 2000, embora entretanto tenham mudado alguns pormenores de somenos, como sejam:
- o autor do projecto (antes era Siza Vieira, agora passou a ser Souto Moura ajudado pelo mesmo Siza Vieira);
- a área por ele abrangida (era só a Praça da Liberdade, mas depois foi andando pela avenida acima);
- a entidade que o vai implementar (começou com a Porto 2001, continuou com a Câmara, que o engavetou, e é finalmente herdado pela Metro).
E em todas estas migrações e metamorfoses o IPPAR esteve em cima do acontecimento, acompanhando a "burilação" passo a passo (até centímetro a centímetro, a acreditar em Lino Tavares).
Neste cenário, o parecer que finalmente emitiu, depois de iniciadas as obras, foi pura formalidade, escusada não fosse haver quem se agarre a estas picuinhices.


Fica ainda a impressão de que neste processo intervieram, sucessivamente ou em paralelo, vários IPPARs com preocupações distintas e até contraditórias:
(1) um que, fiel à vocação do organismo, zela pela conservação do património e se propõe (desde 1993) classificar o conjunto Praça da Liberdade / Avenida dos Aliados / Praça do General Humberto Delgado;
(2) outro, antagónico do primeiro, que desde 2000 conspira com os arquitectos pela descaracterização desse mesmo património;
(3) um que emite um
parecer favorável à intervenção, mas tem reservas quanto a algumas das suas opções fundamentais (por exemplo, quando escreve: «se a opção do projecto passa par uma solução de alameda e afirmação de avenida através do reforço de um eixo, opção essa aceitável, então alguns aspectos poderiam ser ponderados no sentido de conferir maior coerência a essa opção uma vez que se afigura que a individualização des espaços se mantém»);
(4) outro, presente nesta audição com a Comissão Parlamentar, que não poupa elogios ao projecto e não lhe aponta qualquer objecção.»

(Sobre este assunto:
13.10.05- Dos Jornais -"Arranjos nos Aliados não respeitam impacte ambiental" ;
12.10.05- Comentário ; Dos Jornais - "Intervenção da Metro nos Aliados 'boa para a cidade'" ;
8.10.05-Resultado do envio das assinaturas para a Assembleia da República- relatório ;
14.9.05 - Nos jornais- "Parlamento vai debater obras nos Aliados" ;
14.7.05 - Av. dos Aliados - queixas ao Governo português e a Bruxelas )

17.10.05

Frase # 16

«... se há dinheiro que seja gasto em parques infantis, bancos confortáveis nos jardins, sanitários públicos e limpeza assídua das fontes.» (Comerciante dos Aliados)

15.10.05

Esquecimento

Entretanto lembrei-me de um pedido que me solicitaram que divulgasse há já mais de uma semana. Como a estação dos Aliados (alegadamente) não tem locais apropriados para o efeito, os cidadãos menos continentes utilizam indevidamente as magíficas lajes de granito polido.
O pedido: não poderão as entidades competentes providenciar lá para baixo um daqueles urinóis amovíveis? É que dava mesmo muito jeito e aquilo em cima está ficar uma porcaria...


É um problema, pois como como todos sabem: quando m... um português, m... logo dois ou três!

14.10.05

As audições na comissão parlamentar # 1

A transmissão em diferido está (ainda a ser) gravada. Devido ao meu horário de trabalho apenas tive oportunidade de ouvir intermitentemente a última meia hora. E do pouco que ouvi retive e comento apenas o seguinte:
Oliveira Marques por duas vezes afirmou que a placa da estação era tão fina que não permitiria a plantação de árvores ...; creio que da segunda vez acrescentou "de grande porte"... mas que, todavia, ia ficar tudo de acordo com o projecto apresentado ao IPPAR.
Agora no fim das suas declarações disse que ia ser plantado "um bosque" em redor de um espelho de água...

O sr Presidente da Metro SA também afirmou, nestas suas declarações finais, que a Campo Aberto nunca lhe tinha pedido audiência! Errado! Em início de Setembro, a Campo Aberto, em nome de todas as Associações que apoiam a petição, enviou uma respeitosa missiva, solicitanto essa mesma audiência. Até hoje não obtivemos resposta.

Aliás sempre fomos ignorados nos nossos apelos aos responsáveis pela obra: cartas (ao Sr. Presidente da Câmara Municipal do Porto, em início de Maio e em início de Setembro); manifesto entregue juntamente com 2500 assinaturas ao Sr. Presidente da Assembleia Municipal com o pedido expresso de que fizesse chegar aos destinatários (Sr. Presidente da Câmara, Sr. Presidente da Metro, arquitectos) os nossos apelos.

(Logo que possível publicarei a transcrição integral das audições. )

Na ARtv- canal PARLAMENTO

Hoje, em diferido, às 15:00
Audições no âmbito da petição de "Protesto relativo à intervençãourbanística no conjunto da Av. dos Aliados/ Pr. da Liberdade no Porto": IPPAR (Instituto do Português Património Arquitectónico), Empresa Metro do Porto SA, Câmara Municipal do Porto (11 de Outubro)

No site http://www.canal.parlamento.pt/
link Programação Sexta 14 de Outubro

13.10.05

ALIADOS-FOTOS - índice actualizado

Dos Jornais -"Arranjos nos Aliados não respeitam impacte ambiental"

No Público- local por Nuno Corvacho
«A intervenção prendeu-se, para já, com o alargamento dos passeios e a colocação de um piso de granito
Os arranjos à superfície efectuados na Avenida dos Aliados, na sequência da instalação da linha subterrânea de metro, já foram feitos de acordo com o polémico projecto de Siza Vieira e Souto Moura
[ ao contrário do que afirmou Oliveira Marques*]. É certo que está apenas em causa o alargamento dos passeios donde partem os acessos à estação de metro e a colocação de um piso especial de granito; outras mudanças passaram apenas pela reposição das condições normais de circulação do trânsito automóvel. No entanto, a intervenção foi feita já no pressuposto de que o resto da praça virá a obedecer à mesma matriz.

Recorde-se que os dois projectistas idealizaram um espaço em que a velha calçada portuguesa será substituída por granito escuro e os canteiros da faixa central darão lugar a um terreiro com árvores. A intervenção é defendida pela câmara e pela empresa Metro do Porto como corolário do novo arranjo urbanístico para o local, mas suscitou já um abaixo-assinado de 6200 cidadãos (enviado nomeadamente para a câmara e para a Assembleia da República) a criticarem algumas características do projecto e sobretudo a queixarem-se da ausência de discussão pública.
Anteontem, o assunto foi apreciado pela Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura, tendo na ocasião o presidente do Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar), João Rodeia, elogiado o projecto de Siza e Souto Moura, o qual, de resto, já recebeu parecer positivo daquele instituto em Junho último.
Na mesma sessão, o presidente da Comissão Executiva da Metro do Porto, Oliveira Marques, admitiu a possibilidade de o estudo de impacte ambiental (EIA) não vir a ser cumprido na íntegra. Para esta situação, recorde-se, continua a valer o EIA respeitante ao impacte geral da rede do metro e que foi elaborado no final da década de 90, antes sequer de haver obras no terreno. Esse documento determinava que na construção das estações se procurasse preservar "tanto quanto possível" o espaço preexistente à superfície. No entanto, não é essa claramente a intenção dos responsáveis públicos neste caso, pois já foi anunciado o objectivo de mudar os Aliados de alto a baixo. E, ao que o PÚBLICO soube, não foi elaborado nenhum estudo de impacte ambiental especificamente para esta zona da cidade.»

A propósito ler: Comentário e Leis & castigos
[ *]- adenda

Foto antiga # 13

Praça da liberdade e Avenida dos Aliados- postal (colecção particular)

12.10.05

Leis & castigos

in Decreto-Lei n.º 186/90 de 06-06-1990 que regulamentava a Avaliação do Impacto Ambiental à data em que foi feito o estudo para a linha amarela (ler texto completo )

«Artigo 10
1 - A execução de projectos sujeitos a AIA sem a necessária aprovação ou em violação do conteúdo dessa decisão constitui contra-ordenação punível com coima de 500 a 6000 contos.
2 - A negligência é punível.
3 - A entidade competente para a aplicação da coima prevista no número anterior é o membro do Governo responsável pela área do ambiente.
4 - Sem prejuízo do disposto no n.° 1, o membro do Governo responsável pela área do ambiente pode ainda, a título de sanção acessória e nos termos da lei geral, nas situações aí previstas, determinar:
a) A apreensão de máquinas ou utensílios;
b) O encerramento de instalações;
c) A interdição de exercer a profissão ou actividade;
d) A privação do direito de participação em arrematações e concursos promovidos por entidades ou serviços públicos, de obras públicas, de fornecimento de obras e serviços ou concessão de serviços, licenças ou alvarás.
5 - Para além do previsto nos números anteriores, às infracções previstas no n.° 1 aplica-se o disposto no artigo 48.° da Lei n.° 11/87, de 7 de Abril.
6 - Sempre que a ordem de demolição ou o dever de reposição da situação no estado anterior não sejam voluntariamente cumpridos, os serviços do Estado actuarão directamente por conta do infractor, sendo as despesas cobradas coercivamente, através do processo previsto para as execuções fiscais.
7 - As normas processuais relativas à execução do disposto no presente artigo são aprovadas por decreto regulamentar.»


O artigo 48.° da Lei n.° 11/87, de 7 de Abril diz o seguinte:
«Obrigatoriedade de remoção das causas da infracção e da reconstituição da situação anterior

1- Os infractores são obrigados a remover as causas da infracção e a repor a situação anterior à mesma ou equivalente, salvo o disposto no n.º3.
2- Se os infractores não cumprirem as obrigações acima referidas no prazo que lhes for indicado, as entidades competentes mandarão proceder às demolições, obras e trabalhos necessários à reposição da situação anterior à infracção a expensas dos infractores.
3- Em caso de não ser possível a reposição da situação anterior à infracção, os infractores ficam obrigado ao pagamento de uma indemnização especial a definir por legislação e à realização das obras necessárias à minimização das consequências provocadas.»

(Texto completo em http://www.diramb.gov.pt/data/basedoc/TXT_LN_21_1_0001.htm)

Comentário

acerca das declarações do presidente da Comissão Executiva da Empresa do Metro do Porto na reunião da Comissão de Educação, Ciência e Cultura
de Paulo Ventura Araújo
«É falacioso o Prof. Oliveira Marques querer fazer passar por "discussão pública" a sessão na Assembleia Municipal. Por duas razões:
(1) aquilo que a lei define como "discussão pública", e que não se fez neste caso apesar de a lei a isso obrigar, tem prazos bem definidos em que os projectos são postos à consulta dos cidadãos e estes podem apresentar reclamações e sugestões;
(2) a participação do público na Assembleia Municipal está fortemente restringida, pois ele só pode intervir no final, quando já quase todos abandonaram a sala.

É pois evidente que a lei que regula a discussão pública foi desrespeitada. E, para compor o cenário, o mesmo Oliveira Marques admite que não vai ser cumprido o estudo do impacto ambiental. Legalmente, isso só tem duas saídas possíveis: ou se desiste do projecto em curso e se repõe a situação original; ou se procede a um novo estudo de impacto ambiental e só depois se fazem as obras (naturalmente condicionadas pelo resultado desse estudo). Em conclusão: também a lei do impacto ambiental foi (ou irá ser) desrespeitada.
Será que em Portugal o cumprimento da lei é facultativo mesmo para as entidades dependentes de financiamento público?»

(Ver sanções previstas na lei )

de Maria de Carvalho
«Só Oliveira Marques não reparou que as obras já se iniciaram, até ANTES de ser emitido o parecer do IPAR (de 6 de Junho de 2005) que confirma:
«Foi remetido a esta Direcção Regional, pela empresa Metro do Porto, S A, o projecto de inserção urbana na Praça da Liberdade, Avenida dos Aliados e Praça Humberto Delgado, no Porto. O Projecto de Execução em questão refere-se apenas a uma primeira fase que compreende os passeios norte-nascente e norte-poente da avenida. Constata-se que a obra já se encontra em fase de execução.»
Além disso, na sessão da Assembleia Municipal (que tanto os arquitectos como o representante da Metro abandonaram quando chegou à parte em que os vinte e poucos portuenses que obtiveram licença para assistir poderiam intervir) ouvimos um dos arquitectos a ilustrar como ficaria o revestimento proposto justamente com o que já tinha sido feito nos passeios próximos do edifício da Câmara [e que imagens (ver - ver) neste blogue exibem bem]. » (e aqui . também)

Dos Jornais - "Intervenção da Metro nos Aliados 'boa para a cidade'"

No Jornal de Notícias
«Presidente cessante do IPPAR elogia projecto de Siza Vieira e Souto Moura
Obra analisada por comissão da Assembleia da República, na sequência de petição popular

O presidente da Comissão Executiva da Empresa do Metro do Porto refutou, ontem, no parlamento, as críticas feitas por movimentos cívicos da cidade ao projecto de requalificação da Avenida dos Aliados. Oliveira Marques explicou que não há qualquer ilegalidade. O presidente cessante do IPPAR, João Belo Rodeia, considera a solução "pacífica" e "boa para a cidade"

Numa petição entregue à Assembleia da República, várias associações ambientalistas e de defesa do património do Porto haviam acusado a Metro de fazer obras na avenida antes do parecer obrigatório do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR). O presidente explicou, na reunião da Comissão de Educação, Ciência e Cultura, marcada com base no documento dos cidadãos, que as obras feitas naquela área, antes do parecer, serviram apenas para estabelecer as condições mínimas de tráfego, e não fazem parte do projecto elaborado pelos arquitectos Siza Vieira e Souto Moura.


Oliveira Marques mostrou ainda que o organismo do Estado emitiu o parecer a 9 de Junho e que a empresa só encomendou orçamentos para obras depois dessa data (estando as mesmas por adjudicar). (*ver fotos da "requalificação" dos passeios aqui e aqui antes do parecer do IPPAR)

De resto, o presidente cessante do IPPAR, João Belo Rodeia, também presente na comissão parlamentar, confirmou que toda a execução do projecto foi acompanhada, desde o ano 2000, pelos serviços técnicos da entidade que dirige. "A solução a que se chegou foi pacífica. A requalificação que vai ser feita é boa para a cidade e vai ao encontro do projecto inicial, que remonta a 1915", afirmou.

Oliveira Marques admitiu apenas que o estudo de impacto ambiental não vai ser cumprido na totalidade. Quando a obra do metro foi inicialmente projectada, lembrou, estava previsto que a empresa restaurasse as condições à superfície tal como as tinha encontrado, antes das obras. "Quando se verificou que tal não seria possível, a Câmara sugeriu que se fizesse o projecto de requalificação que hoje está em execução. Mas o estudo de impacto ambiental foi feito antes dessa decisão e há elementos que não vamos poder cumprir", afirmou.

O gestor recusou as acusações de que o projecto teria sido indevidamente adjudicado a Souto Moura e Siza Vieira sem concurso público, argumentando que "os valores em causa estavam dentro do que é permitido para ajustes directos". Oliveira Marques refutou também as críticas de que não terá havido discussão pública sobre o projecto. "A Assembleia Municipal em que foi aprovado foi pública", disse.


Vozes
Oliveira Marques- Presidente da Metro do Porto:
"As pessoas confundiram umas obras de arranjo à superfície na Avenida dos Aliados com o início do projecto de Siza Vieira e Souto Moura, que ainda não foram adjudicadas".
(*ver fotos da "requalificação" dos passeios aqui e aqui antes do parecer do IPPAR)
João Belo Rodeia- Presidente do IPPAR:
"A requalificação vai permitir o aumento do espaço público e um melhor exercício de cidadania. Os ganhos para a cidade são claramente superiores às perdas que possa haver".

O que vai mudar
Granito. Passeios -À custa de uma faixa de rodagem, os passeios laterais da Avenida crescem para seis metros. Ali ficam as "bocas" que dão acesso por escadas e elevadores à estação de metro subterrânea dos Aliados.

Placa central- Ficará reduzida em oito metros. Os canteiros de flores desaparecem e são substituídos pelo verde das árvores, plantadas em torno de uma nova fonte, inspirada na fonte de Medicis, dos jardins do Luxemburgo, em Paris.

Estátuas- Na Praça da Liberdade, a estátua de D. Pedro IV permanecerá no mesmo local, mas voltada de frente para a Câmara do Porto.
Já a estátua de Almeida Garret, na Praça do General Humberto Delgado, não sofre mexidas.

Iluminação -O projecto prevê a recuperação dos antigos candeeiros portuenses (monodentes ou tridentes) com uma ou três lâmpadas brancas. »

11.10.05

Foto antiga # 12

Praça da Liberdade e Avenida dos Aliados- Postal antigo (colecção particular)
Esta foto do Porto pode ver-se também em Portugal em Postais Antigos (informação que se agradece a teodias, leitor aliado, editor do blogue do tempo e da luz)

Aliados convertidos em parque

Aqui serão os "Jardins dos Aliados"!

Entretanto, há sempre lugar para mais uns carrinhos...

Aliás, de acordo com o projecto de "requalificação", ao trânsito automóvel continuará a ser dado um lugar privilegiado com a manutenção das três faixas de rodagem.

Para já e como noticia o JN, temos os Aliados convertidos em parque : «A estação do metro dos Aliados está pronta e a Linha Amarela operacional. O estaleiro deixou, há alguns meses, a Avenida dos Aliados. Mas, sem jardim ou renovação à vista, o espaço ermo converteu-se em parque de estacionamento de luxo, em frente ao edifício dos Paços do Concelho. Um aparcamento selvagem e ilegal sem sanção. Os condutores aproveitam as aberturas entre as divisórias de betão da faixa de rodagem para colocar os automóveis alinhados no local, onde, antes da intervenção da Empresa do Metro, existia um jardim. Outros optam por parar os carros, em espinha, no topo da avenida, a poucos passos da escadaria de acesso à estação subterrânea. Neste cenário, também os autocarros não estão isentos de culpa. Continuam a ocupar parte das faixas de rodagem da principal praça da cidade para fazer horas, antes de dar início à viagem. Isto acontece depois de, em Janeiro de 2001, ter-se anunciado que a construção do interface de Bom Sucesso permitiria criar uma zona para o tempo de suporte dos autocarros, que deixariam de fazer compassos de espera na Praça da Liberdade.»

10.10.05

Dos Jornais - "Aliados levam Câmara e Metro ao Parlamento"

No Jornal de Notícias por Carla Sofia Luz
«Comissão de Educação, Ciência e Cultura ouve, amanhã à tarde, representantes das duas entidades e do IPPAR
Audição tem por base petição contra o projecto para a Avenida
Os deputados da Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia Municipal do Porto pretendem saber mais sobre o projecto dos arquitecto Souto Moura e Álvaro Siza para a Avenida dos Aliados e para a Praça da Liberdade, no Porto.
Amanhã à tarde, os representantes da Câmara portuense, da Empresa do Metro e do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) serão ouvidos, no Parlamento. A audição, que terá início às 18 horas com os esclarecimentos do IPPAR - que deu parecer favorável à proposta -, vem na sequência da apresentação da petição de protesto relativa à intervenção urbanística no coração da cidade, por cinco associações ambientalistas e de defesa do património. A petição deu entrada, a 21 de Julho deste ano, na Assembleia da República e, no passado dia 13 de Setembro, os peticionários expuseram os argumentos e as reservas em relação ao projecto de Siza e de Souto Moura perante a Comissão de Educação, Ciência e Cultura.

Legalidade em dúvida
Da auscultação, resultou um relatório e um parecer, redigido pela deputada socialista Manuela de Melo, aprovado por unanimidade pela comissão ainda em Setembro. O blog "Aliados", que surgiu como espaço de protesto à intervenção programada para a avenida e a Praça da Liberdade, transcreve o parecer. "Devem ser ouvidos nesta comissão os responsáveis da Câmara Municipal do Porto, a Metro do Porto, SA e do IPPAR para esclarecimento de dúvidas levantadas sobre a legalidade do processo", como se lê na transcrição, publicada no blog ( http//avenida-dos-aliados-porto.blogspot.com ).

As audições, agendadas para amanhã à tarde, das 18 às 20 horas, começam com o IPPAR, seguindo-se a Empresa do Metro e a Câmara do Porto. A petição das cinco associações
(Campo Aberto, ARPPA-Associação Regional de Protecção de Património Cultural, APRIL-Associação Política Regional de Intervenção Local, Olho Vivo, e GAIA- Grupo de Acção e Intervenção Ambiental) chegou ao Parlamento reforçada com a assinatura de 5726 subscritores.
Os argumentos são já conhecidos. As associações rejeitam a substituição da calçada portuguesa pelo granito. Censuram, ainda, as atitudes da Câmara e da Metro, acusando-as de desrespeitar o estudo de impacte ambiental da Linha Amarela, no troço da Avenida dos Aliados e da Praça da Liberdade - previa a recuperação do jardim, com a reposição do desenho existente antes da obra de construção da estação de metro, nos Aliados -, e de violar a legislação, por não lançar um debate público nem promover a audição dos cidadãos.
Falta conhecer, agora, os argumentos das outras entidades, num momento em que está para breve a adjudicação da obra de requalificação dos Aliados.

Curiosidades
Mudança em Maio.
Foi em Maio que a nova face da Avenida dos Aliados começou a surgir, com o arranjo de parte dos passeios, após a construção subterrânea da estação de metro. A intervenção, que obedeceu ao projecto de Álvaro Siza e de Souto Moura, começou sem ter o obrigatório parecer favorável do Instituto Português do Património Arquitectónico. O aval foi dado posteriormente.
Obra paga pela Metro
A Empresa do Metro irá pagar a intervenção na Avenida e na Praça da Liberdade, orçada em 4,8 milhões de euros

8.10.05

Resultado do envio das assinaturas para a Assembleia da República- relatório

Boa notícia: chegou finalmente (ontem, à caixa do correio) o relatório (com data de 16.10.05) do processo resultante do envio para a Assembleia da Républica de mais de 4000 assinaturas subscrevendo o Manifesto/Abaixo assinado em defesa da Avenida dos Aliados e da Praça da Liberdade, acompanhadas de uma carta-queixa e de outra documentação.
Reproduzem-se alguns passo desse relatório de que se destaca o parecer (V)
.......................................................................................
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E CULTURA

Petição
44/X/1ª
Assunto: “Protesto relativo à intervenção urbanística no conjunto da Av. dos Aliados/Praça da Liberdade, no Porto"

........................
I – Introdução
  1. A presente petição, dinamizada pelas associações CAMPO ABERTO, ARPPA – Associação Regional de Protecção do Património Cultural, APRIL – Associação Política Regional de Intervenção Local, OLHO VIVO e GAIA – Grupo de Acção e Intervenção Ambiental, deu entrada na Assembleia da República a 21 de Julho de 2005 (...)
  2. Por despacho do Senhor Presidente da Assembleia da República, datado de 21 de Julho de 2005, a petição em apreciação foi remetida à Comissão de Educação, Ciência e Cultura para a emissão de um parecer.
  3. A 27 de Julho de 2005, em reunião da Comissão de Educação, Ciência e Cultura, foi decidido por unanimidade a sua admissibilidade nesta Comissão.
  4. Os peticionários dirigiram, entretanto, queixas ao IPPAR, ao Presidente da Câmara Municipal do Porto, ao Provedor de Justiça, ao Ministério Público e à Inspecção-Geral do Ambiente sobre o mesmo assunto. (...)

II -Motivação III – Informação Complementar

  • Segundo os termos da petição sobre a intervenção em curso na Avenida dos Aliados/Praça da Liberdade, os signatários requerem uma rápida intervenção da Assembleia da República “no sentido de repor a legalidade”, com “audição dos responsáveis pelo processo o mais cedo possível, pois a empreitada poderá estar concluída em pouco tempo”. (...)

IV – Audição dos Peticionários

  • A Comissão de Educação, Ciência e Cultura procedeu à audição dos peticionários a 13.09.2005, na Assembleia da República. Estiveram presentes deputados do PS, PSD, CDS e PCP. Os peticionários foram representados por Paulo Ventura Araújo, Dulce Almeida e Isabel Martins.
  • Nas suas intervenções, os peticionários reafirmaram as razões expostas no texto da petição, lembraram que as associações a que pertencem fazem parte do Conselho Municipal do Ambiente, relataram as diligências que têm continuado a efectuar e deram aos deputados uma visão mais aprofundada sobre alguns aspectos.

V – Parecer

A Comissão de Educação, Ciência e Cultura é do seguinte parecer:

  1. A petição deverá ser publicada na íntegra no Diário da Assembleia da República;
  2. A petição preenche os requisitos institucionais e regimentais para ser apresentada ao Plenário;
  3. Devem ser ouvidos nesta Comissão os responsáveis da Câmara Municipal do Porto, da Metro do Porto S.A e do IPPAR para esclarecimento de dúvidas levantadas sobre a legalidade do processo.
  4. A Comissão dará conhecimento deste relatório, desde já considerado intercalar, aos peticionários, à Comissão de Poder Local, Ambiente e Ordenamento do Território, à Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, à Comissão de Obras Públicas, Transportes e Comunicações e aos Grupos Parlamentares.

(Arquivado em ALIADOS- CARTAS /QUEIXAS ENVIADAS e ALIADOS- MANIFESTO E ASSINATURAS )

7.10.05

Granito escuro versus claro

A afirmação que a calçada em calcário e basalto vai ser substituída (e já foi) por cubos de granito escuro, material que também vai ser usado nas faixas de rodagem, é uma incorrecção que se continua a repetir e contra a qual os próprios arquitectos já se insurgiram. Com efeito, como já se pode perfeitamente verificar nos passeios da parte superior da Avenida dos Aliados, o granito não é escuro, mas claro, cinza da cor do cimento, feiíssimo, não tendo nada a ver com o que nos habituámos a considerar o belo granito do Porto!
Mas esta ideia de que o granito era escuro surgiu na sequência das imagem das publicações oficiais, primeiro no próprio site da CMdo Porto e mais tarde na Revista da Câmara Porto Sempre, nº8 , na sua página 12, em que na descrição do material a usar na pavimentação se emprega a expressão "cubos de granito escuro", na passagem que aqui se destaca: «Outro aspecto igualmente abordado prendeu-se com a pavimentação em cubos de granito escuro, que irão cobrir passeios, núcleo central e faixas de rodagem...» *



* A propósito da pavimentação das faixas de rodagem com granito leia-se o que sobre o assunto disse o actual vereador do Ambiente que esteve a medir os níveis assustadores de ruído na Avenida e na Praça.

Dos Jornais -"Ambientalistas do Porto entregaram 6200 assinaturas contra obras nos Aliados"

No Público-local Porto
«Rui Rio recusou receber ambientalistas, que depositaram o documento no Gabinete do Munícipe
A ideia era depositar o abaixo-assinado, contendo 6200 assinaturas contra as obras na Avenida dos Aliados, nas mãos de Rui Rio, mas o presidente da Câmara do Porto recusou receber os ambientalistas, pelo que o documento foi deixado ontem no Gabinete do Munícipe.
"Não foi um momento muito solene. Há algumas semanas, pedimos uma audiência a Rui Rio para entregarmos as assinaturas, mas nunca obtivemos resposta. Fomos ao Gabinete do Munícipe, tirámos a senha e esperámos pela nossa vez. Esperamos que o presidente algum dia abra o envelope", relatou ao PÚBLICO Paulo Araújo, da "Campo Aberto", que lidera a contestação da empreitada da Metro do Porto.
Na próxima semana, o documento será entregue igualmente ao presidente da Comissão Executiva da Metro do Porto, Oliveira Marques.
"Dada a proximidade das eleições, optámos por não entregar o abaixo-assinado a um presidente em exercício", explica o ambientalista, que se mostra, porém, céptico quanto aos efeitos práticos do protesto.
"Rui Rio já disse que considera uma vitória das eleições como uma carta branca da população para os projectos que tem em carteira. Francisco Assis não se mostrou contra o projecto, mas apenas com a forma como este foi conduzido, pelo que, se for eleito, não me parece que faça alguma coisa", recorda Paulo Araújo.
A oposição dos ambientalistas aos trabalhos nos Aliados e Praça da Liberdade assenta no facto de estes os encararem como um atentado à "sala de visitas" do Porto. O projecto é da autoria de Siza Vieira e Souto Moura e prevê transformações profundas, numa área que abarca desde a Estação da Trindade até à Avenida da Ponte. A Avenida dos Aliados e a Praça da Liberdade serão unidas por um piso de granito escuro e os canteiros centrais substituídos por fileiras de árvores. Na continuidade do quadrado de calcário que torneia a estátua de Almeida Garrett surgirá uma fonte gizada por Siza. O projecto já teve o aval do Ippar. A sua conclusão foi inicialmente apontada para o passado mês de Agosto, mas as últimas previsões da Metro do Porto apontava os meses de Dezembro de 2005 ou Janeiro de 2006 como data de conclusão das obras. »

Comentários:
Claro que há uma certa satisfação quando a comunicação social se digna noticiar, mesmo que brevemente, a campanha pela preservação dos Aliados, como é o caso deste texto que sai no Público de hoje; no entanto é raro não se ficar com uma sensação irritante de frustação pela incompletude, pela superficialidade, pelos erros, pelos chavões, etc..

A insistência nos ambientalistas, por exemplo: este movimento de contestação (actualmente encabeçado por um conjunto de associações culturais e ambientais de que se destacam a APRIL, a ARPPA, a Campo Aberto e a GAIA) não é apenas um movimento de ambientalistas como já aqui se explicou! "Ambientalistas do Porto...","oposição dos ambientalistas ...", "explica o ambientalista" ...
Poupem-nos! Despertem a curiosidade dos leitores... Para a próxima, porque não escrever explica este professor de Matemática da Faculdade de Ciências da UP; ou este autor de um livro sobre as árvores históricas do Porto; ou este apaixonado por gatos, etc.. em vez de "explica o ambientalista"! Variem um pouco o discurso e os chavões!

Outra incorrecção que se repete desnecessariamente: o granito não é escuro, mas claro, cinza da cor do cimento, feiíssimo, e não tem nada a ver com o granito do Porto! Esta ideia do granito escuro surgiu aliás na sequência das imagem das publicações oficiais, nomeadamente da Revista da Câmara Porto Sempre, nº8 na sua página 12, em que na descrição do material a usar na pavimentação se emprega a expressão "cubos de granito escuro", na passagem que aqui se reproduz: «Outro aspecto igualmente abordado prendeu-se com a pavimentação em cubos de granito escuro, que irão cobrir passeios, núcleo central e faixas de rodagem...»



Só mais um reparo (last but not least): tal como é explicado no corpo da notícia, o nosso pedido de audiência e os nossos apelos foram pura e simplesmente ignorados o que se traduz na prática por não termos sido recebidos pelo presidente da Câmara como solicitáramos; mas não recebemos nenhuma recusa formal como dá a entender o subtítulo.

Foto antiga # 11

6.10.05

Opinião # 13 - "Três conseguem, seis mil não!"

José Carlos Marques
«No debate de 23 de Setembro sobre questões de ambiente e urbanismo realizado no ISEP, o Eng. Diogo Alpendurada, que teoricamente representava ali o candidato Rui Rio, fez referência ao facto de terem sido apenas três pessoas que desencadearam o movimento que conseguiu evitar que a Exponor fosse instalada nos terrenos do actual Parque da Cidade, o que teria impedido a criação deste,comentando que muitas vezes a Câmara precisa de ser acordada pelos cidadãos. Fiquei com a nítida impressão que o Eng. Alpendurada tinha assim sibilinamente manifestado uma opinião de incentivo ao movimento de contestação à transformação da Av. dos Aliados, embora obviamente não possa ter a certeza.
Uma cidadã presente enviou uma pergunta escrita à mesa, que infelizmente não houve já tempo para submeter a respostas, na qual perguntava como era possível que três pessoas tivessem conseguido aquele feito e cinco mil (afinal são já 6200) nem sequer conseguissem ser ouvidas no caso dos Aliados.
Aparentemente o actual presidente da CMP continua a não querer receber os cidadãos ligados a este movimento, o que não abona a favor dele (Presidente). Há uma maneira de conceber a democracia que acaba por ser uma forma de autocracia, e que é julgar que pelo facto de se ter sido eleito já se não tem o dever de auscultar, dialogar, procurar ouvir a população e as suas diversas correntes com predisposição para as entender e chegar a possíveis consensos ou processos de reflexão e amadurecimento das decisões.
Infelizmente não temos à vista no Porto (e em muitos outros locais) nenhum primeiro candidato com essa percepção da vida democrática.»