26.10.07

"O gigantone dos Aliados"

Por Alexandra Malheiro-Porto
No Público de 24.10.2007
«Há já mais de um ano que o Porto se viu privado da área verde e de calçada portuguesa naquela que é tida como a sua sala de visitas - a Avenida dos Aliados. Transformada que foi numa plataforma cinzenta, impessoal e fria - decerto belíssima em revistas de Arquitectura, ou não fosse ela assinada por Siza Vieira -, foi transmitida aos portuenses a ideia de que a aridez da reformulada avenida permitiria que o povo acorresse à mesma, às golfadas, aquando das grandes festividades da urbe; como, aliás, já ocorria apenas com manifestos danos para o relvado. Era então encontrada a higiénica solução para aglomerados na avenida!
Aos poucos, dois ou três envergonhados bancos de jardim foram plantados nos seus extremos e, a pouco e pouco, a população começou a fazer uso deles. Feia ou bonita, era atravessada diariamente por centenas de pessoas.
Eis senão quando a placa central da mesma se encontra intransitável, inusitadamente ocupada por um estaleiro gigante com o fim de construir uma igualmente agigantada árvore de Natal, visando tornar-se o megalómano vegetal metálico na mais alta árvore de Natal da Europa.
Não sei se é esperado um surto de turistas de toda a parte do mundo com o objectivo de mirar o mamarracho luminoso na época natalícia, mas o que me é dado ver é que o enorme esqueleto de metal já impede (e ainda vai a meio) a visualização do belo edifício da câmara, este sim, um símbolo da cidade e digno de visita nos roteiros culturais. O pouco espaço que sobra na placa encontra-se ocupado por uma barraca com o pomposo título "O Porto a Ler" que mais parece a liquidação total do fundo de catálogo da Editorial Caminho (sem desprimor para os escassos títulos que lá são vendidos).
Quando o estaleiro for retirado, a avenida estará irreconhecível, com um trambolho cuneiforme que há-de encantar gerações de europeus embasbacados. O bom gosto e o cuidado pelos ícones da Cultura impera. Sugiro que abaixo da arvorezinha se instale uma tenda de circo com palhaços e trapezistas!»

A ler: O impacte ambiental da maior árvore de Natal (metálica) da Europa...

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24.10.07

"A avenida"

por Gomes Fernandes , Arquitecto
No JN de 24.10.2007

«O JN do passado domingo revelou um estudo, "encomendado pela SRU-Porto à empresa CB-Richard Ellis", em que a Avenida dos Aliados, conhecida "sala de visitas" do Porto, está excluída dos circuitos de procura comercial na Baixa, avançando, para o efeito, com medidas para a sua recuperação.

Entre elas, surge a proposta de modificar o seu perfil funcional e de desenho, fazendo regressar ao espaço central o verde dos canteiros e de mais arborização, características radicalmente alteradas no último e ainda recente arranjo.

É fácil concluir que o perfil funcional da avenida não se adequa à imagem intensa e atractiva que já teve e que as modificações introduzidas no seu desenho não ajudaram a tal recuperação, que é urgente operar num novo e moderno paradigma. Há dados novos e a ter em conta, a começar pelas acessibilidades do metro e da recuperada circulação de eléctricos, que não parecem ter ainda sido assimilados pelo interesse dos agentes económicos na instalação de novas actividades e do conjunto dos cidadãos na transformação dos seus hábitos de uso e desfrute de tão emblemático espaço central. Situações que se não alteram de um momento para o outro nem se induzem por exclusiva vontade dos planeadores, pois as receitas, quaisquer que sejam, serão sempre de complexa exequibilidade, pela quantidade de variáveis envolvidas e diversidade de agentes que nelas intervêm.

A mudança do perfil funcional de serviços, com as deslocalizações financeiras, de seguradoras e jornais e a redução drástica de funcionários, e a migração de estudantes para pólos universitários periféricos, associada ao envelhecimento e abandono de população residente, geraram vazios vivenciais que não voltarão a ser preenchidos nos mesmos moldes, daí poder dizer-se que estamos perante um novo paradigma, que envolve outros perfis de residentes e consumidores e uma nova mentalidade urbana. A frente de acção é múltipla e exige que sejam criadas condições novas de alojamento em simultâneo com a chamada de novas actividades e serviços, numa complementaridade de parcerias que podem ter como pivot os agentes públicos com os privados, com a Universidade e com os movimentos cooperativo e associativo, para os segmentos habitacional e cultural.

A avenida só se encherá de gente quando dispuser de actividades e serviços atractivos e dinamizadores e tal só acontecerá por mérito de maiores e melhores fluxos turísticos mas, sobretudo, pela geração de vida desencadeada pelos novos residentes dos quarteirões que a envolvem. E isto, como é visível, irá demorar anos, o que exige, da parte da Câmara, uma estratégia intercalar de substituição animadora, capaz de ir deixando as raízes daquilo que se pretende atingir a médio e longo prazo.

Não parece conveniente voltar a revolver os pavimentos do espaço central da avenida com mais obras que os cidadãos não tolerariam, pelo cansaço provocado pelas há pouco terminadas, devendo, quanto a isso, ser adoptadas medidas de simples execução destinadas a criar "canteiros e mais arborização de sombreamento" e resolver o problema do denominado "espelho de água", que não passa de uma suja e pouco atractiva piscina. Tal espaço central tem servido para tudo, numa desconexa e anárquica utilização funcional que em nada ajuda a requalificar o perfil estético e ambiental da avenida, como consequência também não constitui grande mais-valia no chamamento de pessoas ao centro.

Começar por aqui, por planear regras e disciplina e aplicá-las, de forma criativa na gestão urbana da zona, seria já um bom contributo que a Câmara poderia dar à cidade e incentivar os cidadãos a voltarem a gostar da sala de visitas da sua casa. Planeamento integrado do que se quer fazer a prazo, sim que tem de existir e depressa, mas sem esperar pelos seus eventuais resultados poderiam ser tomadas de imediato algumas medidas disciplinadoras de animação que não têm existido. Conclua-se agora a "maior árvore de Natal da Europa" e pense-se no que virá a seguir, no próximo ano, mesmo antes de lhe desmontar a estrutura agora montada. Seria já um bom e exemplar começo! »


Ler ~: "Arrogância Castigada... mas ainda não os arrogantes"

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21.10.07

"Arrogância Castigada... mas ainda não os arrogantes"

A ler no PNED:
«Quem acompanhou o combate de diversas associações e cidadãos contra a forma como se destruíram os jardins dos Aliados e a sua calçada portuguesa sabe com que arrogância, autoritarismo, desprezo e até chacota várias "autoridades" e "personalidades" se referiram a essas associações e cidadãos por mais do que uma vez, e como até, muitos meses depois, chegam a invocar ofacto de uma juíza ter assinado a petição respectiva para porem em causa asua imparcialidade...

Pois bem. Segundo o JN de hoje (julgo que a notícia está reduzida online sendo a edição em papel bem mais explícita), um estudo encomendado a uma firma de consultadoria britânica para ver se conseguem "animar" os Aliados, chegou à conclusão brilhante (devem ter lido o blogue que os "contestários"criaram na altura e outros documentos de idêntica proveniência...) de que é necessário criar zonas de sombra na Avenida e recantos de repouso bem como (e já que não existe agora solo teria que ser em floreiras...) canteiros floridos. Mas, claro, sob supervisão do "arquitecto".
Talvez, podemos nós imaginar, ele não ache agora "rodriguinhos" as tais floreiras e queira contribuir para "recuperar" os "aliados acabadinhos de recuperar"!

Belo puxão de orelhas à arrogância mas ainda não aos arrogantes, perante os quais, por enquanto, ainda continuam os salamaleques.
Saudações cordiais, JCM »

Aliados fora da rota das compras- no JN

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