Carta aberta ao Sr. Arquitecto Souto Moura
Por Joana Andresen Guedes
«Não se esqueça ...o Porto ainda não está "todo" deprimido!
Senhor Arquitecto Souto Moura,
Como portuense e portuguesa tenho muito orgulho na Avenida dos Aliados e na Praça da Liberdade. Já muito se tem falado sobre a renovação que os Srs. Arquitectos pretendem fazer, com o aval do Dr. Rui Rio.
Venho apelar ao seu bom-senso, sensibilidade e sentido de respeito pelos portuenses, pela sua dignidade. A Avenida dos Aliados e a Praça da Liberdade representam mais do que o coração do Porto – são a sua ALMA, o centro do que esta cidade tem de genuíno e carismático. Poderá achar que os seus “canteirinhos” são kitsch (as nossas palavras portuguesas possidónio ou pretensioso não serão menos “kitsch”?) mas não se esqueça que o Porto, embora seja uma cidade de granito, gosta de cor, da cor das flores, e não do obscurantismo do cinzento. Não é concebível pretender projectar no Porto uma praça ao “estilo” da Praça Navona com toda a luminosidade de Roma ou das praças de cidades da Europa Média ou do Norte - é totalmente inadequado, tendo em conta a sua envolvente, – os edifícios, a luz, o “sentir” das pessoas, a forma de viver, em resumo, o enquadramento físico e social. Já muito se falou na calçada com motivos alegóricos ao Vinho do Porto que quer e já está a retirar, nas magnólias que quer deitar abaixo, etc. E D. Pedro IV não está virado para o Sul, para a conquista do país e sobretudo de Lisboa depois de ter desembarcado no Mindelo com os seus “bravos” sem razão de ser ... Não nos imponha o que não queremos; mantenha, repare e conserve o que está, adaptando-o sem o modificar, actualizando-o sem o destruir. Isso sim, é uma grande obra. Não se esqueça ...
Será que mesmo assim não compreende? Numa época em que a globalização cada vez se faz sentir mais, é bom e saudável mantermos, conservarmos e enaltecermos o nosso património único e insubstituível, por muito possidónio que pareça a certas pessoas. Não se esqueça: que dirão as gerações futuras?
Espero que não entenda isto como fruto de uma mentalidade tacanha ou bairrista, mas antes como a constatação de que temos, com todas as nossas energias e se queremos sobreviver, de modernizar, apreciar e valorizar o Porto tal como é, e não de o destruir.
Ouvi dizer que o Sr. Arquitecto achava que o Porto está “todo deprimido” e que pensava ir viver para Lisboa. O Porto ainda não está TODO deprimido, e prova disso são as manifestações contra a destruição da Avenida dos Aliados, o manifesto com abaixo-assinados de 7.000 pessoas. Pode ser que sejam estes os portuenses que ainda não estão deprimidos e apáticos perante uma falta de emprego e recursos cada vez maior devido à centralização e consequente anulação a que está condenado o resto do País, excepto o Algarve e algumas zonas consideradas de interesse turístico. Os serviços estão praticamente todos em Lisboa, as sedes dos vários bancos portuenses renderam-se e mudaram também para a capital, os recém licenciados do Porto são forçosamente “desterrados” para Lisboa, único sítio em Portugal onde conseguem arranjar emprego ...
Será que o destino do Porto é mesmo o de ser desterrado? Então mande fazer uma réplica gigantesca do “Desterrado” do nosso grande Soares dos Reis, e coloque-a bem no centro da Avenida dos Aliados!
Porto, 25 de Novembro de 2005
Joana Andresen Guedes»
«Não se esqueça ...o Porto ainda não está "todo" deprimido!
Senhor Arquitecto Souto Moura,
Como portuense e portuguesa tenho muito orgulho na Avenida dos Aliados e na Praça da Liberdade. Já muito se tem falado sobre a renovação que os Srs. Arquitectos pretendem fazer, com o aval do Dr. Rui Rio.
Venho apelar ao seu bom-senso, sensibilidade e sentido de respeito pelos portuenses, pela sua dignidade. A Avenida dos Aliados e a Praça da Liberdade representam mais do que o coração do Porto – são a sua ALMA, o centro do que esta cidade tem de genuíno e carismático. Poderá achar que os seus “canteirinhos” são kitsch (as nossas palavras portuguesas possidónio ou pretensioso não serão menos “kitsch”?) mas não se esqueça que o Porto, embora seja uma cidade de granito, gosta de cor, da cor das flores, e não do obscurantismo do cinzento. Não é concebível pretender projectar no Porto uma praça ao “estilo” da Praça Navona com toda a luminosidade de Roma ou das praças de cidades da Europa Média ou do Norte - é totalmente inadequado, tendo em conta a sua envolvente, – os edifícios, a luz, o “sentir” das pessoas, a forma de viver, em resumo, o enquadramento físico e social. Já muito se falou na calçada com motivos alegóricos ao Vinho do Porto que quer e já está a retirar, nas magnólias que quer deitar abaixo, etc. E D. Pedro IV não está virado para o Sul, para a conquista do país e sobretudo de Lisboa depois de ter desembarcado no Mindelo com os seus “bravos” sem razão de ser ... Não nos imponha o que não queremos; mantenha, repare e conserve o que está, adaptando-o sem o modificar, actualizando-o sem o destruir. Isso sim, é uma grande obra. Não se esqueça ...
Será que mesmo assim não compreende? Numa época em que a globalização cada vez se faz sentir mais, é bom e saudável mantermos, conservarmos e enaltecermos o nosso património único e insubstituível, por muito possidónio que pareça a certas pessoas. Não se esqueça: que dirão as gerações futuras?
Espero que não entenda isto como fruto de uma mentalidade tacanha ou bairrista, mas antes como a constatação de que temos, com todas as nossas energias e se queremos sobreviver, de modernizar, apreciar e valorizar o Porto tal como é, e não de o destruir.
Ouvi dizer que o Sr. Arquitecto achava que o Porto está “todo deprimido” e que pensava ir viver para Lisboa. O Porto ainda não está TODO deprimido, e prova disso são as manifestações contra a destruição da Avenida dos Aliados, o manifesto com abaixo-assinados de 7.000 pessoas. Pode ser que sejam estes os portuenses que ainda não estão deprimidos e apáticos perante uma falta de emprego e recursos cada vez maior devido à centralização e consequente anulação a que está condenado o resto do País, excepto o Algarve e algumas zonas consideradas de interesse turístico. Os serviços estão praticamente todos em Lisboa, as sedes dos vários bancos portuenses renderam-se e mudaram também para a capital, os recém licenciados do Porto são forçosamente “desterrados” para Lisboa, único sítio em Portugal onde conseguem arranjar emprego ...
Será que o destino do Porto é mesmo o de ser desterrado? Então mande fazer uma réplica gigantesca do “Desterrado” do nosso grande Soares dos Reis, e coloque-a bem no centro da Avenida dos Aliados!
Porto, 25 de Novembro de 2005
Joana Andresen Guedes»
Arquivado em ALIADOS-OPINIÃO
7 Comments:
BRAVO, caríssima amiga e aliada Joana Andresen Guedes! Precisam-se de mais cartas assim. De mais pessoas assim: capazes de dizer o que lhes vai na Alma e que o façam!
Bravo!
Avenida dos Traidores – Porto
http://sal-portugal.blogspot.com/2005/12/avenida-dos-traidores-porto-1.html
Sal de Portugal
http://sal-portugal.blogspot.com/
Idem, bravo.
Acrescento só duas coisinhas:
1. Parece que o nosso D. Pedro afinal não vai andar às voltas, fica quedo. Espero é que os nossos iluminados Siza e Robin não se lembrem de montar o cavaleiro e cavalo em cima de uma paragem de autocarro de betão como fez o igualmente iluminado Solà de Morales no castelo do queijo...
2. Há uma coisa boa no projecto dos ditos para os Aliados: repõem-se os candeeiros de iluminação pública ao gosto do «debut de siècle» passado.
Bem, não resisto,
3. E se o nosso Souto Moura quer ir para Lisboa por ser mais alegre, que faça o favor. Só prova que não tem o apego suficiente ao Porto que lhe dê autoridade para fazer o que está a fazer à cidade. Se o tivesse, nem o proporia. Não se lembre é de propôr algo semelhante para o Rossio. Não me parece que lá fôssem ser tão apáticos como a maioria de nós por aí.
Abraços,
Alexandre Borges Gomes
Luanda.
Muito obrigado por esta carta, pena é que as sete mil almas que subscreveram o manifesto, não possam fazer o mesmo uma a uma, em carta-aberta, e publicá-las nos jornais.
Obrigada, D. Joana Andresen Guedes, muito obrigada pela sua excelente carta. Falou em nome de todos aqueles que não conseguem gritar o seu desespero. Pena é ser dirigida a quem não quer ler nem ouvir.
Ao Ex.mo Sr. Alexandre Borges Gomes: fez bem em não resistir! Afinal eles fazem o que lhes apetece e não dão satisfações nem ouvidos a ninguém. São eles que sabem... O nosso mal é ele não ter ido para Lisboa há mais tempo.
M.R.L.
Na ecelente carta está a prova como dois arquitectos + um presidente de Câmara conseguem tornar os "PORTUENSES" mais tristes. Infelizmente não vão para Lisboa dar seguimento aos seus devaneios. Quem os queria ?
Rui Pereira
mt bem, nao diria melhor.... É pena q ninguém nos ouça.......
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