30.11.05

Carta aberta ao Sr. Arquitecto Souto Moura

Por Joana Andresen Guedes
«Não se esqueça ...o Porto ainda não está "todo" deprimido!

Senhor Arquitecto Souto Moura,
Como portuense e portuguesa tenho muito orgulho na Avenida dos Aliados e na Praça da Liberdade. Já muito se tem falado sobre a renovação que os Srs. Arquitectos pretendem fazer, com o aval do Dr. Rui Rio.
Venho apelar ao seu bom-senso, sensibilidade e sentido de respeito pelos portuenses, pela sua dignidade. A Avenida dos Aliados e a Praça da Liberdade representam mais do que o coração do Porto – são a sua ALMA, o centro do que esta cidade tem de genuíno e carismático. Poderá achar que os seus “canteirinhos” são kitsch (as nossas palavras portuguesas possidónio ou pretensioso não serão menos “kitsch”?) mas não se esqueça que o Porto, embora seja uma cidade de granito, gosta de cor, da cor das flores, e não do obscurantismo do cinzento. Não é concebível pretender projectar no Porto uma praça ao “estilo” da Praça Navona com toda a luminosidade de Roma ou das praças de cidades da Europa Média ou do Norte - é totalmente inadequado, tendo em conta a sua envolvente, – os edifícios, a luz, o “sentir” das pessoas, a forma de viver, em resumo, o enquadramento físico e social. Já muito se falou na calçada com motivos alegóricos ao Vinho do Porto que quer e já está a retirar, nas magnólias que quer deitar abaixo, etc. E D. Pedro IV não está virado para o Sul, para a conquista do país e sobretudo de Lisboa depois de ter desembarcado no Mindelo com os seus “bravos” sem razão de ser ... Não nos imponha o que não queremos; mantenha, repare e conserve o que está, adaptando-o sem o modificar, actualizando-o sem o destruir. Isso sim, é uma grande obra. Não se esqueça ...
Será que mesmo assim não compreende? Numa época em que a globalização cada vez se faz sentir mais, é bom e saudável mantermos, conservarmos e enaltecermos o nosso património único e insubstituível, por muito possidónio que pareça a certas pessoas. Não se esqueça: que dirão as gerações futuras?
Espero que não entenda isto como fruto de uma mentalidade tacanha ou bairrista, mas antes como a constatação de que temos, com todas as nossas energias e se queremos sobreviver, de modernizar, apreciar e valorizar o Porto tal como é, e não de o destruir.
Ouvi dizer que o Sr. Arquitecto achava que o Porto está “todo deprimido” e que pensava ir viver para Lisboa. O Porto ainda não está TODO deprimido, e prova disso são as manifestações contra a destruição da Avenida dos Aliados, o manifesto com abaixo-assinados de 7.000 pessoas. Pode ser que sejam estes os portuenses que ainda não estão deprimidos e apáticos perante uma falta de emprego e recursos cada vez maior devido à centralização e consequente anulação a que está condenado o resto do País, excepto o Algarve e algumas zonas consideradas de interesse turístico. Os serviços estão praticamente todos em Lisboa, as sedes dos vários bancos portuenses renderam-se e mudaram também para a capital, os recém licenciados do Porto são forçosamente “desterrados” para Lisboa, único sítio em Portugal onde conseguem arranjar emprego ...
Será que o destino do Porto é mesmo o de ser desterrado? Então mande fazer uma réplica gigantesca do “Desterrado” do nosso grande Soares dos Reis, e coloque-a bem no centro da Avenida dos Aliados!
Porto, 25 de Novembro de 2005
Joana Andresen Guedes»
Arquivado em ALIADOS-OPINIÃO

RUI RIO E OS ALIADOS

ou do diálogo encarado como monólogo
por José Carlos Costa Marques*
*Um dos mandatários do referendo promovido pelo Movimento pelo Parque da Cidade; um dos fundadores da associação Campo Aberto

O texto que se segue foi escrito dois dias depois das declarações de Rui Rio nele analisadas, e proposto poucos dias mais tarde, para publicação, a um jornal de referência muito lido na cidade. Entretanto foram retomadas as obras sem que o texto tivesse visto a luz do dia. Venceu-se assim o prazo útil para que fizesse sentido a sua inserção num órgão da imprensa de actualidade efémera. Mas como os pontos abordados têm por outro lado vigência mais duradoura que o próprio caso que motivou o texto, a sua divulgação junto de alguns cidadãos mais interessados poderá ainda ter um resquício de utilidade. JCCM

«Pouco tempo decorrido sobre uma vitória eleitoral expressiva e que ninguém poderia beliscar, o presidente do executivo municipal portuense, Rui Rio, reafirma a opção já anteriormente tomada no caso das obras dos Aliados-Praça da Liberdade.

Existem, para um eleito, duas formas muito diferentes de encarar o poder derivado do acto eleitoral em democracia representativa. Há quem o encare como um acto final que autoriza a partir daí ao eleito tomar as decisões que entender, ainda que no respeito dos mecanismos formais e imbuído das melhores intenções. E há, haverá, quem o veja como um acto inicial que inaugura um ciclo de democracia permanente, no qual as decisões são tomadas tendo em conta as correntes de opinião que se manifestam no território em que aquele poder se exerce, e também os afectos e motivos identitários assentes numa memória colectiva reconhecível e que dão o sentido e a continuidade aos melhoramentos e inovações.

Nessa concepção, o poder exerce-se com base numa atitude de auscultação e diálogo sinceros e constantes e em que mesmo as decisões controversas procuram integrar ou de alguma forma ter em conta os elementos válidos de soluções eventualmente descartadas por motivos que tenham sido tornados transparentes e compreensíveis. Cremos que é esta segunda perspectiva que de facto exprime o verdadeiro espírito democrático para o qual o poder do eleito é, sempre, um poder delegado pelo povo.

No sábado 12 de Novembro, alguns cidadãos animadores de um movimento que recolheu já bem mais de sete mil assinaturas de contestação às obras previstas para os Aliados-Praça da Liberdade, reafirmaram a sua vontade de que a decisão fosse reanalisada pelo executivo municipal. As declarações que, sob reserva de exactidão, Rui Rio confiou na ocasião à imprensa, que concepção revelam do exercício do poder por parte do autarca?

Debate, monólogo ou propaganda?
A concepção que Rui Rio manifesta acerca do exercício do poder, ao exprimir respeito pelos que contestam a sua opção no caso dos Aliados, ao reconhecer que são movidos pelo amor à cidade, contrasta fortemente, neste aspecto, com a de outros eleitos que mal disfarçam o seu desprezo pelas críticas e a arrogância com que as consideram. Ao mostrar abertura para uma diligência de última hora, ainda que lateral, Rui Rio parece situar-se no âmbito da segunda das concepções, a mais efectivamente democrática.

No entanto, e sem menosprezar tal atitude de respeito e sinais de abertura (ou talvez antes frincha ou réstea), o que fica das suas declarações é sobretudo a ideia que manifesta do diálogo no exercício do poder, pelo menos quanto a este caso concreto. É preciso um esforço de imaginação para lhe chamar diálogo. Tal como o concebe, estamos antes perante um monólogo. Numa das declarações referidas pela imprensa (jornal Público de 13 de Novembro), depois de exprimir respeito pelos que fizeram a acção de protesto, o autarca teria declarado: "... não concordo quando dizem que houve pouco debate: mandámos um mailing para todas as caixas de correio da cidade, dedicámos muito espaço de uma revista da câmara ao projecto, houve uma apresentação pública nos paços do concelho e uma assembleia municipal."

Parece inacreditável incluir no conceito de debate os três primeiros actos, simples comunicações do topo para a base, do poder para os administrados, por vezes roçando a propaganda, e sem qualquer possibilidade de efectiva contradição, crítica, controvérsia ou proposta divergente, sequer de audição de pontos de vista. Quanto à assembleia municipal, são conhecidas as lamentáveis peripécias relativamente a este caso. *
Sintomaticamente, Rui Rio não refere o processo de discussão pública que, segundo os críticos da obra, é legalmente obrigatório, e que não existiu. Ainda que um verdadeiro debate democrático em matéria do mais alto interesse para a cidade não deva restringir-se àquele que a lei impõe, esse é pelo menos o mínimo indispensável. Mínimo que, no caso, não houve. Se tivesse havido um real debate na cidade, em que forçosamente Rui Rio teria sido elemento interveniente e determinante, como locutor e como ouvidor, como poderia afirmar, a crer nos jornais, que "as críticas têm a ver com a estética"? Têm, certamente, mas não, e de muito longe, apenas com a estética. Como não poderia ignorar, têm igualmente a ver com o alegado desrespeito da lei, com aspectos ambientais, de património artístico e vegetal, e de identificação com a memória, tudo coisas que se não podem amalgamar com a simples «estética».

Nas declarações citadas, o presidente do município dá como principal sinal de abertura, depois de sublinhar no entanto a irreversibilidade da decisão já tomada, "incentivar os dois arquitectos a falar com estas pessoas para tirar dúvidas". Estranha concepção "professoral" de debate e de diálogo!

Um urbanismos governado por uma transportadora?

As relações de Rui Rio com a dupla de célebres arquitectos Souto Moura e Siza Vieira (cuja fama é de certo justa mas não pode ser tomada, como o é frequentemente, como um argumento de autoridade há séculos destronado da vida mental livre) merecem uma alusão. É como se Rui Rio procurasse resgatar-se do "pecado" cometido no caso do Parque da Cidade, quando, lúcida e corajosamente, se opôs ao projecto revestido da prestigiosa assinatura de Souto Moura e que, facto sobejamente conhecido, foi publicamente apoiado alto e bom som por Siza Vieira. Os argumentos que Rui Rio invoca para afirmar ter havido debate podiam ter sido, ipsis verbis, utilizados por Nuno Cardoso (e até mais do que aqueles!) no caso do Parque da Cidade. E que teria pensado Rui Rio se, então, Nuno Cardoso o tivesse convidado "a tirar dúvidas com o arquitecto"?

Desse "pecado", Rui Rio parece ter querido fazer logo "acto de contrição" ao apoiar-se no prestígio da famosa dupla de arquitectos na questão da "requalificação" do jardim da Rotunda da Boavista. Ao longo de um ano foram constantes os ziguezagues do executivo municipal nesta questão. Felizmente o resultado final foi completamente diferente das pretensas "decisões irreversíveis" proclamadas várias vezes no início e no meio do processo. Rui Rio começou por declarar que os portuenses iriam ficar surpreendidos com as enormes transformações a operar naquele local emblemático – que, recorde-se, incluíam o atravessamento do jardim pelas carruagens do metro. Também na altura afirmou que tinha havido debate público suficiente, invocando a aprovação pela população local e pela junta de freguesia de Cedofeita. Ninguém atento deu, na ocasião, por tal imaginário debate. Por razões nunca claramente explicadas aos portuenses, quanto mais com eles debatidas, o "irreversível" projecto sofreu diversas alterações e abandonos, até se fixar no que hoje é – não o ideal segundo algumas pessoas, mas pelo menos uma obra que respeita o essencial do legado histórico do jardim e da sua força identitária na cidade.

Como andaria avisado Rui Rio se actuasse de idêntica maneira no caso dos Aliados, discretamente ou melhor ainda com toda a transparência, corrigindo a tempo, ainda a tempo, uma decisão gratuita (ou, antes, caríssima) de descaracterização profunda da identidade portuense! Essa verdadeira humildade democrática, em vez de diminuir o autarca, só o engrandeceria.

Mas afinal quem governa o Porto?
Nas declarações do autarca, ainda a crer na imprensa – e é isto talvez o mais grave –, ressalta que, numa questão tão emblemática como a dos Aliados, o presidente do município foi despojado de poderes decisivos. O autarca confessa que alguém decidiu ("e não fui eu", cito) que deveria haver uma estação do metro nos Aliados. E acrescenta: "Por mim, as estações da Trindade e de S. Bento eram suficientes."

Obviamente, não nos ocorreria responsabilizar Rui Rio pela aberração jurídico-política segundo a qual uma empresa como a Metro manda mais na cidade, em matéria que nada tem a ver com transportes mas sim com a memória, o património e o urbanismo da cidade, do que o executivo municipal eleito. Os benefícios potenciais na mobilidade e de ordem ambiental que se reconhecem na rede deste semi-eléctrico semi-comboio a que chamam metro não pode justificar que uma empresa de transportes não eleita e não responsável perante os cidadãos se tenha tornado na urbanizadora e "requalificadora" de maior impacto na cidade. Em todo o caso, a patente pugnacidade e desassombro de Rui Rio noutros domínios poderiam ter-se aplicado a tentar estabelecer um correcto reequilíbrio de poderes. Mas tal não parece ter acontecido até agora. Neste caso dos Aliados, se não há, como acreditamos que não há, um "contrato" oculto, Rui Rio tem ainda a oportunidade de, pelo menos, tentar começar a tentar reequilibrar esses poderes.» José Carlos Costa Marques
*[cronologia das "peripécias": 18 de Abril aprovação de uma moção dos deputados da oposição visando a discussão do projecto; primeira semana de Maio as obras iniciam-se sem o tal debate público, sendo ignoradas as recomendações da oposição ; pouco depois dá-se o triste caso da proposta em sessão de Câmara que em princípio permitiria a suspensão dos trabalhos em curso ter sido inviabilizada pela ausência imprevista de um deputado da oposição e pelo facto de Rui Rio ter usado o seu voto de qualidade ; no fim do mês de Maio o debate público que afinal ia ser promovido no Rivoli na presença dos deputados municipais e dos autores do projecto, foi adiado por a sala não ter sido reservada a tempo e estar ocupada com outro evento; finalmente a 8 de Junho a sessão extraodinária da Assembleia Municipal -a tal em que se afirma ter havido debate público e em que os arquitectos vieram de novo apresentar o seu projecto, ausentando-se na altura em que é permitida a intervenção do público, cuja participação nesta assembleia, é como se sabe limitada e condicionada- e em que a ausência intrigante de dois deputados levou ao chumbo de uma moção, que visava censurar Rui Rio por não ter realizado debates sobre o projecto da Avenida dos Aliados].


(publicado também no blogue da Campo Aberto)
nota: os "links" são da minha inteira responsabilidade-manueladlramos

29.11.05

Frase # 26

«Se não está escangalhado, não conserta!»
Alexandre Borges Gomes aqui

28.11.05

Em destaque

  • Transcrição das entrevistas sobre a Avenida dos Aliados, do programa da RTP1 - Portugal em Directo (25 de Novembro de 2005)
    Gravados depoimentos de: Rui Rio (presidente da câmara); Germano Silva (jornalista e historiador); Dulce Marques (arquitecta); Nuno Quental (engenheiro do ambiente); Artur Silva (professor); Fernando Fernandes (comerciante); Orminda Gonçalves (comerciante) e Maria Rosa Carvalho (moradora) e ainda Sena Esteves (arquitecto).
  • Imagens do avanço das obras aqui e aqui.

"Lamentos e desabafos"

Os "lamentos e desabafos" de Souto Mouro no Público

«"A grande contestação que eu tive em Valença foi por fazer jardins. As pessoas dizem: Não precisamos dos jardins para nada, queremos é sítios para pôr os carros, porque os turistas têm que vir aqui, porque o comércio está mal, o que nós precisamos é de estacionamento. No Porto é ao contrário: se colocamos granito e tiramos os jardins, estamos feitos".
Este foi um dos vários lamentos que se ouviram anteontem de Souto Moura a propósito das inúmeras polémicas de que tem sido alvo ao longo da sua carreira.
A controvérsia que se gerou na Cidade Invicta por causa da supressão de um jardim na Avenida dos Aliados no âmbito do projecto do metro mereceu várias referências por parte de Moura, que se queixa do facto de o arquitecto ser "um tipo mal visto". "É o metro em que se cortam árvores, é o estádio [de Braga] que vai para a Assembleia da República, são as queixas no Ministério Público... Enfim, isto tem um lado muito cansativo", desabafou. »
No Público -Local Porto de hoje, 28.11.05 (not on line)

Frase # 25

«Ou será que este "inefável" organismo de tutela aceita que escaquem os Aliados, para estes senhores certamente um espaço menor sem envolvência patrimonial, e incomoda-se com a boca de saída do túnel nas proximidades do Museu? Vá lá cronista, "leigo na matéria", entender isto!»
Gomes Fernandes arquitecto na sua crónica da passada quinta-feira no JN

27.11.05

Frase # 24

«E se eu pudessse fazer alguma coisa, eu fazia! Como muitos se têm visto... em localidades de Trás-os-Montes que as pessoas se metem à frente dos tractores para evitar determinadas coisas.» Maria Rosa Carvalho aqui sobre as obras nos Aliados

Foto antiga # 18



Menina Nua - A juventude
Obra de Henrique Moreira, realizada em 1929
Foto (postal) enviado por um aliado, estudante de arquitectura

Impávida e serena...

Frase # 23

«O partido do granito: é o Barley e o Fred. Esses dois arquitectos são os Flintstones.» Rui Reininho

26.11.05

"Portugal em directo" - o que se disse

(com comentários)

O programa começou com a retransmissão de pequenos excertos de uma reportagem da RTP sobre a reunião convocada para a Praça da Liberdade no passado dia 12 de Novembro , nomeadamente as declarações de Rui Reininho, e do arquitecto Sena Esteves que afirmou:
É cinzento. É cinzento. É triste e já está à mostra, em vários sítios. Esse pavimento é triste. E este pavimento é um pavimento bonito, alegre. E é pena perder-se esta arte de fazer pavimentos que é levada até para outros países.
A jornalista concluíu: As obras de requalificação dos Aliados vão custar quase cinco milhoes de euros. Nesta manifestação foi feita uma recolha de assinaturas que já foram enviadas para a Assembleia da República. Entretanto estão a ser pensadas novas acções de protesto para tentar pôr um travão ao projecto.
(Aproveita-se para rectificar este detalhe da recolha das assinaturas: o total de assinaturas enviadas para a Assembleia da República em finais de Julho foram de 5762 como se pode comprovar aqui; entretanto por uma questão simbólica continuaram-se e continuam-se a recolher assinaturas. Em início de Outubro atingiram-se as 6200 assinaturas e actualmente já deve ter ultrapassado 7000; no dia 12 de Novembro recolheram-se mais 165 assinaturas)

Acabada esta parte que serviu de introdução, no estúdio, a jornalista pergunta a Andreia Neves, jornalista que fazia o directo do Café Guarany, na Avenida dos Aliados:
Mas o Presidente da Câmara do Porto Rui Rio está determinado a avançar com este projecto e considera-o mesmo irreversível. Andreia Neves o que é que vai valer afinal a contestação?

Andreia Neves (jornalista): Rui Rio diz que essa contestação é muito respeitada por ele enquanto Presidente da Câmara, porque sabe que as pessoas a fazem apenas por amor à cidade do Porto. Mas diz no entanto que a contestação não vai levar a lado nenhum porque como Câmara, a Câmara decidiu e está decidido, portanto o que vai acontecer muito simplesmente é que o projecto já está aprovado, já está no terreno e vai estar pronto em Março do próximo ano.
O Presidente da Câmara não pôde estar presente neste debate em directo porque a esta hora assiste à inauguração da sede da candidatura de Cavaco Silva aqui na cidade no Porto a poucos metros aliás, por isso foi possível falar com ele antes numa entrevista previamente gravada em que apresentou as razões para a mudança de cenário desta zona centro do Porto.
......
Jornalista: Sr. Dr. esta obra é uma obra irreversível?
Rui Rio: Repare naturalmente é irreversível na medida em que se vai fazer... daqui por quarenta, cinquenta, sessenta anos se calhar podem fazer diferente...
O que eu quero dizer é o seguinte: há um projecto, esse projecto é feito por dois conceituados arquitectos, um dos quais então considerado talvez um dos melhhores arquitectos de sempre de Portugal que é o arquitecto Álvaro Siza Vieira. São duas pessoas nas quais todos nós confiamos plenamente do ponto de vista técnico. A Avenida não pode voltar a ser o que era porque seja que arquitecto for não consegue voltar a pôr na exacta medida que há as duas bocas de entrada (da estação) da Avenida dos Aliados que transformam completamente a Avenida. Portanto os mesmos canteiros etc. tudo isso, não podiam ser, tinham de necessariamente ser diferentes.

[reparo: os acessos à estação subterrâne apenas existem na parte superior da Avenida, na primeira plataforma destruída para se fazer a estação; a opção de se "uniformizar" em cinzento e transformar radicalmente todo o conjunto não se deve a estas entradas !]

Este projecto foi discutido e informado. Ou seja fizemos um mailing a todas as caixas do correio, [n]a Revista da Câmara que também é distribuída em todas as caixas de correio foi explicado por duas vezes o projecto, tivemos uma sessão na Assembleia Municipal, tivemos uma sessão pública nos Paços do Concelho.

[reparo: esta Assembleia Municipal foi uma Assembleia extraordinária convocada exactamente devido ao facto do Sr. Presidente da Câmara na votação em sessão de Câmara para se proceder à discussão pública da obra na Av. dos Aliados ter usado o seu voto de qualidade para impedir que esse debate se realizasse! Ver mais detalhes aqui].

As pessoas estão a contestar e em alguns do casos nota-se com algum conhecimento de causa, portanto estão informadas, ouvimos as pessoas e depois há uma Câmara que é eleita e tem de decidir.
A democracia é assim, não pode agradar a todos, seguramente, e neste caso concreto por mais simpatia que eu tenha, e tenho pelas pessoas que estão a contestar, porque eu já tive oportunidade de dizer e volto a repetir: estão a contestar porque gostam da cidade, não ganham nada com isto, é apenas porque gostam da cidade e portanto isso merece-me respeito. Agora depois, no fim é preciso fazer qualquer coisa. A Avenida não pode ficar nestes termos e portanto vai ser feito esse projecto. Como digo, mas bom, é para sempre? Claro que não é para sempre, tudo isto muda. Tanto não é para sempre que o que está não é para sempre, vai mudar agora.
Eu pessoalmente estou convencido, mas estou mesmo convencido que nós vamos ficar aqui com um espaço fantástico, não só a Avenida dos Aliados, como desde Gonçalves Cristóvão, o viaduto Gonçalves Cristóvão até à ponte Luis I, vai ser tudo requalificado por força das obras do metro. Eu estou convencido que o Porto vai ficar aqui com um espaço fantástico, desenhado por dois grandes arquitectos. Vamos ver o resultado final . Nós conhecemos os desenhos, eu consigo imaginar, mas depois uma coisa é ver, eu estou confiante que realmente vamos ter aqui um espaço fantástico

Jornalista: Admite algum diálogo e algumas concessões desde que os arquitectos concordem também.
Rui Rio: Naturalmente esse diálogo não é comigo. Eu não fiz o projecto. Se os arquitectos estiverem disponíveis, eu já tentei inclusivé falar com eles, para ouvir essa contestação que têm feito, no sentido de tentar absorver eventualmente um reparo ou outro reparo, de certeza reparos menores, porque se forem reparos maiores ele não muda o projecto, se eles estiverem disponíveis, eu acho isso útil, e acho saudável. Agora é preciso notar uma coisa: no fim é preciso decidir e a responsabilidade de decidir é minha, fui eleito para decidir, tenho de decidir, e portanto decido desta maneira, não é.
....
Andreia Neves (jornalista): Foi esta entrevista de Rui Rio, previamente gravada como já dissemos, pela impossibilidade do Presidente da Câmara do Porto estar presente neste debate em directo por compromisso oficial já antes assumido no entanto o debate mantem-se. Ou seja está aprovada a obra, aliás está em curso nesta altura, deve demorar cinco meses, isto a contar desde a altura que começou até agora, o que significará certamente que em Março do próximo ano a Avenida dos Aliados e a Praça da Liberdade terão uma nova cara. Uma nova cara que não deixa de ser contestada por várias personalidades da cidade e várias Associações, cinco ao todo. Para começar a saber porquê convidámos Germano Silva, ele é jornalista e é também autor de vários livros sobre a cidade do Porto, conhece esta cidade como a palma da mão e está contra este projecto. E pergunto porquê?

Germano Silva: Sim porque o projecto é desnecessário. Não havia necessidade de construir uma estação de metro aqui na Avenida dos Aliados. Há uma estação em S. Bento e há outra na Trindade, esta é desnecessária. E é esta que provoca justamente esta alteração que vai modidificar por completo a fisionomia de uma avenida, de um local que era o fórum desta cidade. É aqui que exprimimos as nossas alegrias, fazemos as nossas reivindicações, e o desaparecimento do basalto e dos canteiros é retirar a pincelada de cor e alegria que esta cidade tinha no centro. (ler entrevista de Germano Silva a Ana correia Costa do JornalismoPortoNet)

Andreia Neves (jornalista): Já sei que defende também ou tinha defendido uma eventual consulta pública que não se chegou a realizar.
Germano Silva: Exactamente. Uma obra desta envergadura devia obedecer a uma consulta pública à cidade. Aliás o dinheiro que se vai gastar aqui devia ser aplicado na reconverversão, ou na recomposição do Jardim do Marquês do Pombal, a estação do Marquês já está feita, e o (jardim do) Marquês ainda não foi restituído ao público; e outros jardins, como o Jardim de S. Lázaro que está num completo abandono e é o jardim romântico por excelência da cidade, a Praça da República que é um eirado, já não é um jardim...

Andreia Neves (jornalista):Portanto havia muito onde gastar o dinheiro, e não aqui?
Germano Silva: Havia muito onde gastar o dinheiro e não aqui.

Andreia Neves (jornalista): (...) voltaremos a falar novamente na segunda parte deste debate... Obviamente vou agora dirigir-me para algumas pessoas desta cidade do Porto, algumas das quais obviamente também contestam este processo. Vamos tentar saber as razões de uma forma breve. Dulce Marques de Almeida é arquitecta e não está muito satisfeita, com este projecto.
Dulce Almeida (arquitecta): Absolutamente contra o projecto e o processo que o envolveu.
O projecto porque de facto continua uma atitude e uma maneira de estar na arquitectura que é a da “tábua rasa” que é uma atitude modernista que não está absolutamente dequada ao presente século xxi onde o conduzir a cidade a um futuro sustentável está na ordem do dia, e é absolutamente indispensável.
E ao processo por razões idênticas: quando numa época em que é indispensável que os cidadãos estejam envolvidos em tudo o que é intervenção na cidade e se pretende eefim animar e reactivar a Baixa isso não acontece e mais do que isso, quando se pede para se ter uma palavra junto do poder local, não há eco.


Andreia Neves (jornalista): Muito bem esta é uma das razões e para terminarmos, Artur Pires Silva é professor. Também está contra?
Artur Pires Silva: Sim, inteiramente, e subscrevo aqui as palavras da Srª Arquitecta e gostaria de acrescentar que o povo portuense não foi chamado a pronunciar-se e as decisões caíram numa espécie de tecnocracia. Cada vez mais são os especialistas que determinam e não o cidadão comum. Eu acho que isso não é maneira de fazer política.

Andreia Neves (jornalista): Agradecemos aos dois esta opinião.
Como vemos são muitas, como já disse cinco Associações que contestam, são mais ainda as pessoas que o fazem, o abaixo-assinado do passado dia 13 de Novembro conseguiu pelo menos 7ooo assinaturas [ver rectificação no início].
Na 2ª parte deste debate vamos tentar também ainda saber as razões a nível ambiental, a níverl de comerciantes e nível daqueles que vivevem no Porto e estão contra.

No Estúdio: Apesar de todas estas opiniões contra, pelos vistos não vai valer de nada pelo menos pelo que foi dito pelo Presidente da Câmara do porto. Mas vamos esperar pela 2ª parte para ver o que o debate traz de novo.

(...)
Andreia Neves (jornalista):Poderá ser ou não inglória esta luta, uma vez que também na entrevista ouvimos Rui Rio dizer que eventualmente os arquitectos Souto Moura e Siza Vieira poderão proceder a algumas alterações ao projecto, pequenas alterações e desde que eles assim o entendam, ele poderá aceitará essas alterações. Resta é saber se esse diálogo poderá ser ou não possível. Os arquitectos não estão presentes neste debate apesar de o convite lhes ter sido dirigido.
Dirijo-me então a Nuno Quental, da Associação Campo Aberto, ele é também engenheiro do ambiente. Acha que é possível proceder ainda a algumas alterações?

Nuno Quental (engenheiro do ambiente): Eu penso que sim, vamos sempre a tempo de fazer alterações desde que seja para melhorar este projecto.
Nós fundamentalmente somos a favor da preservação da calçada portuguesa, da preservação das árvores, há muitas árvores que vão ser abatidas desnecesáriamente por causa da necessidade de estreitar a placa central. Ora se cortarmos pelo menos uma faixa de rodagem ao trânsido automóvel, passando de três para duas faixas poderíamos salvar essas árvores e manter a Avenida tal como está; manter também e recuperar e até melhorar os jardins que ainda existem.

A parte dos jardins é extremamente importante, aliás foi isso em grande parte que motivou o facto de toda a Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade estar em vias classificação no Instituto do Património.

Andreia Neves (jornalista):Essas são algumas das vossas reinvindicações neste momento. O diálogo acha que ainda é possível?
Nuno Quental (engenheiro do ambiente):Eu penso que sim. Nós estamos sempre disponíveis para o diálogo, aliás já endereçámos uma carta a diversas instituições a pedir uma nova audiência para isso mesmo; entregámos assinaturas; portanto o diálogo vai sempre a tempo. Tal como eu disse, desde que de facto as outras pessoas também estejam disponíveis, nós estamos disponíveis. Se de facto quiserem alterar o porjecto nós estaremos sempre de acordo em colaborar na medida das nossas possibilidades.

Andreia Neves (jornalista):Agradeço também a Nuno Quental este depoimento. Importante é também dizer que alguns estudos levam mesmo a concluir que a temperatura aqui no centro da cidade do Porto poderá aumentar de 7 graus com a retirada de algumas árvores.

Dirijo-me agora a alguns comerciantes aqui desta zonas. Fernando Fernandes, de uma forma muito sintética o que é que acha, (o senhor que) que está aqui há tanto tempo instalado, destas obras?

Fernando Fernandes (comerciante): Ora bem eu acho que o problema aqui é num todo... O projecto que está aqui a ser feito à revelia das pessoas do Porto. Têm-se feito várias manifestações e abaixo-assinados, e as pessoas não têm recebido as ...
Andreia Neves (jornalista):Vossas opiniões?
Fernando Fernandes (comerciante):Exactamente.

Andreia Neves (jornalista):Mas está contra o projecto?
Fernando Fernandes (comerciante):Totalmente contra na medida em que vai mudar totalmente as nossas referências. Portanto no Porto, a Avenida dos Aliados deixa de ser a sala de visitas do Porto para ser uma sala de visitas cinzenta, sem cor, sem vida, conforme estão todas as praças hoje, pós Porto 2001: são feias, são cinzentas, são tristes, cheias de granito. Eu conheço uma parte grande da Europa e esta calçada portuguesa é única no mundo.

Andreia Neves (jornalista):Agradeço também o seu comentário. Muito obrigada por ter vindo a este “Portugal em Directo” .
Orminda Gonçalves, também é comerciante também conhece esta zona melhor do que ninguém, acaba por cá viver quando está a trabalhar, o que é pensa do projecto?
Orminda Gonçalves (comerciante): Eu estou na Avenida dos Aliados desde 1972 e acho que a Avenida dos Aliados teve sempre esta visão. Lamento que se tenha tirado tudo isto, que são realmente referências... para mim... eu cresci aqui porque vim para aqui com 16 anos, e portanto tenho muitas fotografias da Avenida, dos meus filhos que nasceram aqui, cresceram aqui e infelizmente é isto que... vou realmente guardar com muita mágoa. Porque realmente isto que se está a fazer é um atentado.

Andreia Neves (jornalista):Agradeço também a sua opinião. Chego um pouco à frente para falar com Maria Rosa Carvalho... Como habitante do Porto o que é que pensa deste projecto?
Maria Rosa Carvalho: Muito mal.

Andreia Neves (jornalista):Porquê ?
Maria Rosa Carvalho: Porque acho que o jardim... acho que tudo o que existe na Avenida dos Aliados é a coisa mais bonita que temos no Porto.

Andreia Neves (jornalista):E então o que é que pensa fazer? Alguma coisa?
Maria Rosa Carvalho: Tomara eu, mas sozinha não posso fazer nada. Eu ontem já liguei para a rádio, liguei para a televisão, eu liguei para todo o lado porque eu não tinha conhecimento de nada. Tive conhecimento que andavam a tirar as grades lá em baixo, em frente à cervejaria Sá Reis. E acho quer dizer... faz mal. O projecto do senhor arquitecto Siza Vieira, e do senhor arquitecto Souto Moura, aliado com o presidente da Câmara Rui Rio, acho que está muito mal.

Andreia Neves (jornalista):Vai sentir saudades disto?
Maria Rosa Carvalho: Muita muita saudade. E se eu pudessse fazer alguma coisa, eu fazia! Como muitos se têm visto... em localidades deTrás-os-Montes que as pessoas se metem à fente dos tractores para evitar determinadas coisas.

Andreia Neves (jornalista): Determinados. Determinados por dentro.
Nesta altura vou-me dirigir de novo a Germano Silva, ele que conhece a cidade do Porto como ninguém. Falou connosco na primeira parte. Mas tenho uma pergunta importante para lhe dirigir agora, uma vez que ao contrário do que aconteceu com o túnel de Ceuta, neste caso o IPPAR até aprovou o projecto.
Germano Silva: O IPPAR tem tido atitudes incompreensíveis. Durante muit o tempo reprovou a construção Torre de Fernando Távora junto à Sé, depois aprovou-a; levantou o problema do túnel de Ceuta; aprovou este plano aqui; e nunca se pronunciou, que eu saiba, sobre a destruição de umas cassas dos século XVI, das poucas que havia no Porto em pleno centro histórico da cidade ali na...

Andreia Neves (jornalista):Mas o Germano conhece tão bem esta cidade, diga-me a cidade está ficar irreconhecível?
Germano Silva: A cidade está a ficar irreconhecível com este tipo de obras. Que dizer, eu não sou contra o metro. O metro é um benefício para a cidade, importante, e isso está provado. Agora não havia necessidade de se construir uma estação aqui, na Avenida dos Aliados! (...)

Andreia Neves (jornalista):Agradeço mais uma vez a sua participação neste debate.
É portanto assim, a obra é irreversível, vai continuar. Eventualmente poderá ter pequenas alterações, mas essas alterações serão de circunstância se os arquitectos autores da obra Siza Vieira e Souto Moura concordarem, Rui Rio e a Câmara do Porto estão dispostos a aceitar essas pequenas alterações.

Há um abaixo-assinado com 7000 assinaturas a pedir que as obras não sejam feitas assim. São necessárias porque aqui na Avenida dos Aliados há acessos a construir à estação do Metro [rectificação: os acessos já foram construídos no alto da Avenida, apenas nessa zona, não há mais acessos a serem construídos]. Há também, é importante que se diga uma queixa destas Associações nas instâncias europeias e no Governo, agora como é que isto vai acabar, parece que de alguma forma com o avanço das obras e eventualmente umas pequenas alterações, se o diálogo ainda vier a ser possível.

Esperemos que a Câmara e os arquitectos em especial venham a ser sensíveis a essas opiniões e venham a poder adaptar esssas sugestões que foram imensas de resto, que ouvimos neste debate. Parece que a população está mais contra do que a favor de todo esse projecto.»

25.11.05

"Portugal em directo"

Logo- às 18.10 na RTP

Sobre os ALIADOS

(ler transcrição)

"ACABOU. Já não há jardins!"







Fotos e mensagem recebidas nos ALIADOS a meio da noite

«São 3 da manhã e não consigo ir dormir sem desabafar.
Como sou obrigado a passar a todo o tempo por a amada avenida, ao ver esventrá-la senti que de facto era a mim que o estavam a fazer; de máquina fotográfica em punho lá fui registando o prevísivel assassinato, tentando não me emocionar.
ACABOU. Já não há jardins.
Os portuenses do séc.XXI são masoquistas e sentem-se felizes a dizer mal. Estou mesmo a ver os partidos e figuras emblemáticas a criticar quando a obra estiver pronta, sem contudo nada terem feito antes.
Só o cromo do jornalista que escreveu uma crónica no JN em que dizia que daqui a 100 anos ninguém estará cá para criticar é que me fez rir. F.F.»

24.11.05

Já começaram!

A 2ª fase da destruição começou.
Segundo notícias recebidas, já começaram a tirar a calçada
daqui.

Pedido

Envie-nos as suas fotos (mais ou menos antigas) da Avenida dos Aliados e da Praça da Liberdade. Aquelas em que aparece a dar milho às pombas, a andar de triciclo ou de bibicleta, ou a passear simplesmente... Envie-nos as suas recordações. Gostaríamos de as publicar aqui.

(mail portoaliadosarrobasapo.pt)

Praça - fim de tarde de Outono

Recordações # 2

«quem não tem, como eu, fotos de quando era criança a dar milho às pombas nos Aliados...
quem na adolescência não se encontrou lá com os seus amigos para passar a noite de S. João... quem nunca festejou as doze badaladas do ano novo em comunhão com outros portuenses...»
( anónimo/a aqui)
Recordações # 1
Índice ALIADOS-OPINIÃO - actualizado

23.11.05

Nos Jornais- "Obras nos Aliados vão ser analisadas pela IGAT"

Afinal não são só más notícias...
No Jornal de Notícias - Inês Schreck
«O relatório final da petição contra a requalificação da Avenida dos Aliados, no Porto, vai ser enviado à Inspecção- Geral da Administração do Território (IGAT) para análise dos procedimentos desenvolvidos até à aprovação da empreitada.

O documento, ontem aprovado por unanimidade pela Comissão Parlamentar da Educação, Ciência e Cultura, será igualmente analisado em plenário na Assembleia da República, uma vez que ultrapassou o requisito das quatro mil assinaturas.
Com quase seis mil signatários, a petição, que nasceu de um protesto dinamizado por várias associações ambientalistas , conclui que "há leituras diferentes sobre questões essenciais".

Depois de ouvidos os peticionários, a Câmara (por escrito), a Empresa Metro do Porto e o Instituto Português do Património Arquitectónico, permanecem dúvidas que passam, essencialmente, sobre quem, a nível autárquico, deve aprovar um projecto que implica alterações ao património cultural e o que significa na prática o direito de participação dos cidadãos nessas mesmas alterações.

A relatora do documento, Manuela Melo, considera que "há coisas pouco claras" no processo que conduziu à aprovação do projecto dos arquitectos Siza Vieira e Souto Moura, obra da Metro já adjudicada e entregue.
"Como não podemos dizer taxativamente que há infracções à lei enviamos ao IGAT o relatório para que verifique a legalidade dos procedimentos", explicou, ao JN, a deputada socialista. »

"Hoje não tenho boas notícias..."



Estas fotografias foram enviadas para os ALIADOS com a seguinte mensagem:
«Hoje não tenho boas notícias, acho que vão começar a obra, uma vez que não enfeitaram de Natal os candeeiros da avenida, só os da câmara é que foram os escolhidos.

Também hoje andaram a colocar grades de modo a cercar o jardim que resta da avenida. Enfim! que tristeza!»

Que tristeza! E que vergonha! E que revolta!

Apesar apesar de ainda não ter sido publicado o relatório final da Comissão Parlamentar* , apesar das agora mais de 7000 assinaturas**, apesar das queixas à Provedoria de Justiça e Ministério Público , os responsáveis da obra avançam, insensíveis, ignorando tudo e todos.

Numa altura em que as cidades que têm o privilégio de possuírem espaços com história, os preservam para os transmitirem às gerações futuras, numa época em que as políticas modernas de intervenção em espaços urbanos aconselham medidas que valorizem a diversidade de carácter de cada cidade e protejam o património cultural (e natural), a cidade do Porto programada e conscientemente vai arrasar com um século de história urbana. Espantoso!


Adenda:* Relatório Final da Comissãp Parlamentar ; ** ALIADOS- MANIFESTO E ASSINATURAS

19.11.05

Nos Jornais- "A memória dos lugares"

No Público - edição impressa Local- Porto
«Não foi pela quantidade de pessoas que se juntaram (não mais do que 30), nem pela presença de notáveis como o cantor Rui Reininho ou o arquitecto Fernando Lanhas. A manifestação de protesto contra a intervenção no conjunto urbano composto pela Avenida dos Aliados e pela Praça da Liberdade ficou na retina pelo facto de ter mostrado que ainda há gente que se mobiliza por causas.
Como o próprio Presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, foi obrigado a reconhecer, nenhum dos manifestantes ganhou um tostão por estar ali. E nenhum tinha interesses particulares a defender. Fizeram-no pela ideia de defesa de um património colectivo. Porque acham que, por mais prestigiantes que sejam os nomes dos arquitectos responsáveis pela intervenção proposta (Siza Vieira e Souto Moura), não têm o direito de transfigurar radicalmente um património que está inscrito na memória dos portuenses, sem que os mesmos portuenses tenham sido consultados. Os mesmos, afinal, que, juntamente com a calçada à portuguesa e os canteiros centrais, ajudaram a escrever a história da cidade. N.F.»

Calçadas no Outono

...

Responda se souber: Qual é a calçada mais "amiga do ambiente"?

18.11.05

Frase # 22

«(...) É preciso dizer claramente que a arte que assim destrói o espaço público não presta: é irrisória, é arrogante, é desrespeitadora da cidade e da sua memória; é infinitamente inferior à arte dos calceteiros que compuseram os expressivos desenhos que serão imolados ao cinzento uniforme do granito, e à dos jardineiros que mantêm pacientemente os canteiros agora proscritos.» -Paulo Ventura Araújo in Sizentismo (a reler!)

Foto antiga # 17

Avenida dos Aliados - postal antigo

17.11.05

A ler -"Obras de requalificação dos Aliados avançam na próxima semana"

in JornalismoPortoNet (Ana Correia Costa)
«O projecto de requalificação dos arquitectos Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto Moura para a zona dos Aliados, no Porto, vai começar a ser executado entre segunda e terça-feira, garantiu hoje, quinta-feira, fonte da Metro do Porto ao JPN
(...)
Siza Vieira desvaloriza os protestos dos cidadãos dizendo que "não se pode agradar a todos". "A constestação que vi no sábado foram 30 pessoas", disse o arquitecto ao JPN a propósito da manifestação do passado sábado contra o projecto de que é co-autor.
(...)
Siza Vieira não exclui a hipótese de os dois arquitectos explicarem o projecto aos portuenses, mas afirma que tal só deverá acontecer "perante um convite do presidente da Câmara e da Metro". O arquitecto esclarece ainda que até ao momento não foram contactados nesse sentido.»
(ler texto completo)

O que eles dizem

«(...) Questionado quanto ao facto de a intervenção do metro na Avenida dos Aliados, no Porto, ter ido além do que estava inicialmente previsto – havendo agora um projecto de requalificação já aprovado cujo âmbito ultrapassa a construção das estações – Narciso diz apenas que não era possível tapar os buracos e voltar a colocar o calcário. "Nós temos de ser mais exigentes e ambiciosos", justifica. (...) » Ler

in JornalismoPortoNet

16.11.05

Nos Jornais

«(...) Todas as obras previstas mas ainda não adjudicadas pela Metro ficam suspensas. Além da segunda fase da rede, também a requalificação urbana em Vila do Conde, por exemplo, fica afectada pela decisão do Governo.

As intervenções no espaço urbano do Porto, como a renovação da Avenida dos Aliados, estando já adjudicadas, vão mesmo avançar, apurou o JN, junto de fonte da Empresa do Metro.»
no JN - Estado apanha Metro do Porto de surpresa

A ler -"Arquitectos estão a adaptar os Aliados ao projecto deles"

in Jornalismo PortoNet (por Ana Correia Costa)
«Germano Silva está "totalmente em desacordo" com o projecto de requalificação da Avenida dos Aliados, da autoria dos arquitectos Siza Vieira e Souto Moura. "Os arquitectos estão a adaptar a avenida ao projecto deles e não o contrário", acusa. (...)
Relativamente às alterações forçadas pela implantação das bocas de entrada e saída das estações subterrâneas do metro, Germano Silva defende que "os arquitectos deviam ter conciliado as entradas [do metro] com o aspecto físico da avenida, de modo a não agredi-la. Porque a Avenida vai ser agredida", prevê.
Germano Silva critica "o cinzentismo com que pretendem decorar a avenida", e aponta ainda como negativa a "retirada dos canteiros e da mancha de cor que lá existe”, assim como "a colocação de passeios de granito".
Por tudo isto, o jornalista conclui que a população deveria ter sido ouvida: "Devia ter havido consulta pública para saber se os munícipes querem ou não [o projecto], porque estamos a lidar com um património que é de todos".
"Lamento que esse projecto se concretize", desabafa, concluindo que "é uma perda para a cidade".»
ler notícia

Arquivado em ALIADOS- OPINIÃO

14.11.05

A ler- "Portuenses contra projecto para os Aliados"

in Jornalismo PortoNet
«Projecto dos arquitectos Siza Vieira e Souto Moura é alvo de contestações entre as pessoas que utilizam diariamente a avenida.
Da Praça da Liberdade à General Humberto Delgado, todos os portuenses ouvidos pelo JPN foram unânimes na opinião: as alterações previstas para a Avenida dos Aliados, no Porto, delineadas no projecto de requalificação traçado pelos arquitectos Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto Moura, não são bem vindas.
De todas as modificações, a substituição do pavimento da avenida (o projecto contempla a substituição da calçada à portuguesa por cubos de granito em forma de cauda de pavão) é, de longe, a mais controversa.
(continuar a ler)»

Opinião # 18- Violência em urbanismo

1- artigo de opinião de Jorge Vilas no JN
2- comentários de Teófilo M no Akiagato

13.11.05

Sábado na Praça

O tempo compôs-se no Sábado de S. Martinho, e pouco depois das 11 da manhã as primeiras declarações de alguns dos responsáveis da reunião já estavam a ser gravadas, tendo as reportagens passado nas televisões e saído na imprensa diária de hoje e em pelo menos dois serviços noticiosos on line. Foram também distribuídos no local o comunicado à imprensa e a nossa cronologia de todo o processo. Neste aspecto um dos objectivos do evento foi amplamente cumprido.
Em baixo: Paulo Araújo e Dulce Almeida
..........
O arquitecto e pintor Fernando Lanhas sendo entrevistado pela RTP

Um dos primeiros Aliados a marcar presença foi o incondicional defensor da "calçada portuguesa" e assíduo colaborador do Correio dos Leitores no JN sobre este assunto.

Os portuenses que acorreram ao apelo não foram muito numerosos*. Pesou sem dúvida o facto da reunião se ter decidido em poucos dias (devido ao anúncio do início das obras) para além da já conhecida fraca participação cívica dos portugueses em geral (não sei se dos portuenses em particular...).
Enfim foram poucos mas bons, como se costuma dizer...

Para além de Nuno Quental, que abriu a parte das intervenções, outros presentes fizeram também questão de manifestar a sua opinião e o seu descontentamento.
..

Muitas pessoas que não tinham ainda tido oportunidade de assinar o manifesto fizeram-no então (recolheram-se 165 assinaturas); e há sempre necessidade de explicar em alguns casos o que a Metro e Câmara projectam para aquele espaço, pois ainda agora uma enorme maioria de pessoas desconhece por completo o que se anuncia.

...........

Mas, como já reportou um dos participantes , a maior parte do tempo passou-se em ameno convívio e, graças a uma Aliada benfeitora, tivemos castanhas à descrição, o que fez com que celebrássemos, sem contar, o S. Martinho na Praça da Liberdade. O Sol, como manda a tradição, não deixou de aparecer.

...............
A música também não faltou e para além de nós, quem se deliciou foram os turistas e os habituais transeuntes surpreendidos por este programa de animação pouco habitual na Baixa.

*O número de participantes apresentado pelas fontes jornalísticas varia entre as três dezenas e as duas centenas. Eu francamente não contei o número de pessoas que se dignaram marcar presença na Praça da Liberdade. As próprias forças de ordem informaram-me que iriam reportar a presença de 150 pessoas.

Comentários de Rui Rio

O que "declarou o Presidente da Câmara
Ao JN: «"Quem esteve na concentração merece-me respeito porque é capaz de se mobilizar por amor à cidade. Mas estamos a falar de algo irreversível. As críticas têm a ver com estética e são feitas com base em informações correctas. Não me importo nada de incentivar os dois arquitectos [Siza Viera e Souto Moura] a falar com estas pesssoas para tirar dúvidas".
As declarações do presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, feitas, ao JN, horas depois da concentração, deixam transparecer que o diálogo é ainda possível, mas só se os autores do projecto estiverem disponíveis.
"A nível da Câmara foram dadas todas as informações sobre o projecto, que só aparece porque se decidiu (e não fui eu) que deveria haver uma estação do metro nos Aliados. Por mim, as estações da Trindade e de S. Bento eram suficientes". »

Ao Público: «"Os temores desaparecerão"
PÚBLICO - Reconhece algum fundamento às críticas dos manifestantes?
RUI RIO - As pessoas que fizeram essa acção de protesto não ganham nada com isso, fazem-no porque se preocupam com a cidade e isso merece todo o respeito. Como não o têm feito com mentiras nem com falsidades, mas com argumentais leais, só posso achar positivo. Contudo, não concordo quando dizem que houve pouco debate: mandámos um mailing para todas as caixas de correio da cidade, dedicámos muito espaço de uma revista da câmara ao projecto, houve uma apresentação pública nos paços do concelho e uma assembleia municipal.
As pessoas foram confrontadas com factos consumados. O projecto tinha que ser feito e nunca colheria unanimidade. As pessoas contestam a retirada dos canteiros, mas não era possível repor os canteiros porque a placa central vai ficar mais pequena oito metros, por força das bocas de entrada e saída da estação de metro. Portanto, não há espaço físico para voltar ao que era. Podia-se pôr outros canteiros, mas ficariam muito estreitos e inestéticos. Já a questão da pedra [cubos de granito] poderia ser alterada, mas essa é uma opção estética dos arquitectos. A actual calçada será recolocada na zona envolvente, provavelmente na Rua de Sampaio Bruno, logo não se perde.
O projecto não poderá ser alterado?

Terá que perguntar aos arquitectos. Ao nível dos traços fundamentais, penso que não, mas até poderei acarinhar alguma proposta que queiram apresentar aos arquitectos. Se Souto Moura estiver disponível para fazer uma sessão, estou convencido que os temores das pessoas desaparecerão como os meus desapareceram. A opção dos arquitectos foi fazer uma avenida desde os Aliados até às Cardosas e o desenho foi condicionado em parte pela estação do metro.»

Reunião de sábado - reportagens

Cronologia do processo de "requalificação da Avenida dos Aliados/ Praça da Liberdade"

(Documento distribuído na Reunião de 12-11-05)

  • 14 de Março de 2005 - apresentação pública do projecto pelos seus autores.
  • 18 de Abril de 2005 - a Assembleia Municipal do Porto recomenda à Câmara que o projecto deve ser sujeito a uma «discussão pública "abrangente" que envolva não só a autarquia, mas também as associações da cidade e os munícipes».
  • 19 de Abril de 2005 - comunicado da Campo Aberto ("A nova Avenida dos Aliados: um presente envenenado") contestando o projecto, publicado na íntegra no Público de 21 de Abril.
  • finais de Abril de 2005 - início das obras segundo o projecto, sem que tenha sido respeitada a recomendação da Assembleia Municipal de se fazer discussão pública.
  • 5 de Maio de 2005 - cartas da Campo Aberto sobre as obras na Av. Aliados da Campo Aberto à CMP, ao IPPAR (Instituto Português do Património Arquitectónico) e ao Provedor de Justiça (invocando nomeadamente a ausência do parecer prévio obrigatório do IPPAR e o incumprimento do artigo 4º da Lei n.º 83/95, que regula as discussões públicas).
  • 16 de Maio de 2005 - uma proposta de recomendação da CDU, no sentido de parar as obras até que o projecto seja apreciado pelos órgãos municipais e pelo IPPAR, é chumbada pelo Executivo Municipal.
  • 6 de Junho de 2005 - IPPAR dá parecer favorável ao projecto.
  • 7 de Junho de 2005 - apresentação do projecto, com a presença dos seus autores, na Ass. Municipal do Porto.
  • 14 de Junho de 2005 - início da recolha de assinaturas para o abaixo-assinado contra as obras.
  • 25 de Junho de 2005 - Provedor de Justiça responde à Campo Aberto, informando que vai convocar o Presidente da Câmara e abrir um inquérito para apurar o possível incumprimento da Lei n.º 83/95.
  • 6 de Julho de 2005 - As associações Campo Aberto, ARPPA, APRIL, Olho Vivo, Quercus e GAIA promovem uma reunião pública em que participaram cerca de 300 pessoas, na Fundação Eng. António de Almeida «aberta a todos os cidadãos interessados em defender os valores cívicos e patrimoniais postos em causa pelo processo de requalificação Avenida dos Aliados / Praça da Liberdade».
  • 8 de Julho de 2005 - As associações Campo Aberto, ARPPA, APRIL, Olho Vivo, Quercus e GAIA apresentam queixa ao Ministério Público e à Inspecção-Geral do Ambiente contra a Câmara Municipal do Porto e contra a empresa Metro do Porto, S.A. O fundamento é o incumprimento da Lei n.º 83/95 e o desrespeito pelas recomendações da Avaliação de Impacte Ambiental (o que configura uma violação do Decreto-Lei n.º 186/90).
  • 11 de Julho de 2005 - São entregues em mão na Assembleia Municipal do Porto as assinaturas dos 2510 primeiros subscritores do abaixo-assinado contra o projecto em curso de requalificação da Av. dos Aliados / Praça da Liberdade.
  • 14 de Julho de 2005- As associações Campo Aberto, ARPPA, APRIL, e GAIA apresentam queixas ao Governo português e a Bruxelas ( Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional; Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações; Ministro dos Assuntos Parlamentares; Presidente da Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura; Comissário Europeu do Ambiente e ao Sr. Presidente da República).
  • Fins de Julho- São enviadas mais de 4000 assinaturas para a Assembleia da República
  • 13 de Setembro de 2005 - Audiência em Lisboa dos representantes das associações com o o Chefe de Gabinete da Sr.ª Secretária de Estado dos Transportes. Audição dos mesmos representantes pela Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura.
    16 de Setembro de 2005 - Emitido o relatório da Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura que unaninemente recomenda que a petição sobre a Av. dos Aliados / Praça da Liberdade, das associações atrás mencionadas, deve: (i) ser publicada na íntegra no Diário da Assembleia da República; (ii) ser apresentado e discutido no plenário da Assembleia da República; (iii) ser dado a conhecer à Comissão de Poder Local, Ambiente e Ordenamento do Território, à Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, à Comissão de Obras Públicas, Transportes e Comunicações, e aos Grupos Parlamentares. Além disso o relatório determina que deverão ser ouvidos os responsáveis da Câmara Municipal do Porto, da Metro do Porto S.A. e do IPPAR para esclarecimento das dúvidas levantadas sobre a legalidade do processo.
  • 6 de Outubro de 2005 - Uma vez que o Presidente da Câmara do Porto não deu resposta a um pedido de audiência feito por carta registada com data de 8 de Setembro, foram entregues no Gabinete do Munícipe, pelos representantes das associações, as assinaturas dos mais de 6200 subscritores dos abaixo-assinados de protesto contra a transformação da Av. dos Aliados / Praça da Liberdade.
  • 11 de Outubro de 2005 - Audições do IPPARe da Metro do Porto S.A. pela Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura.

Para ler as cartas enviadas e as transcrições das audições na Comissão Parlamentar consulte o seguinte ÍNDICE

Comunicado à imprensa

Comunicado à imprensa (11 de Novembro de 2005) distribuído na Reunião de Sábado
APRIL - ARPPA -Campo Aberto -GAIA -Olho Vivo

«Por uma recuperação participada da Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade respeitadora do património
Os protestos públicos das associações e de quase 7000 peticionários parecem não estar a surtir o efeito desejado junto das entidades oficiais, em particular da Câmara Municipal do Porto e da Metro do Porto. Não há efectivamente uma boa forma de descrever esta posição autoritária de desprezo por todos aqueles que, legitimamente, procuram defender o património e memória de uma cidade que também consideram sua. Esta atitude arrogante é tanto mais incompreensível quanto o direito à participação em matérias de interesse público está legalmente consagrado para intervenções que influenciam significativamente as condições de vida da população. Acresce que o conjunto urbano formado pela Praça Humberto Delgado, Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade se encontra desde 1993 em vias de classificação pelo IPPAR – o que, só por si, demonstra como o espaço faz parte da memória colectiva da cidade e merece ser preservado e recuperado.

O que torna o caso mais aberrante é ainda o facto deste tipo de comportamento já ter sido repudiado noutras ocasiões pelo actual Presidente da Câmara Municipal do Porto. O Dr. Rui Rio tem vindo a defender, e bem, a necessidade de transparência, a gestão escrupulosa dos dinheiros públicos e a defesa do património. Contudo, a intervenção na Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade vai no sentido inverso e nem mesmo os protestos públicos provocaram uma correcção das falhas detectadas. As entidades oficiais optaram por um autismo consciente.

Ainda assim, as associações irão tentar dialogar, novamente, com a Câmara Municipal do Porto, com a Metro do Porto e com o IPPAR, numa derradeira “ofensiva diplomática”. Gostaríamos que estas entidades estivessem dispostas a lançar um concurso de ideias para a recuperação da Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade tendo como objectivo principal recuperar e melhorar os seus jardins e calçada de acordo com a traça original, aumentando o espaço dedicado ao peão e eliminando as barreiras à mobilidade. Queremos que a Baixa seja um espaço vivo, com cor, onde dê gosto passear. Já basta de praças inóspitas, cinzentas e desprovidas de imaginação!

Fazer cidade não pode ser sinónimo de aplicar uma qualquer fórmula matemática ou padrão geométrico um pouco por todo o lado, sem atender à história e ao carácter dos lugares; é, pelo contrário, planear com criatividade e participação. O cidadão é simultaneamente o seu objecto e objectivo. A cidade nasce do encontro das pessoas, do seu trabalho em conjunto – é mesmo das maiores realizações da sociedade! Ignorá-las é, por isso mesmo, promover o seu desmembramento. »

12.11.05

O anúncio da reunião "Aliados em defesa da Avenida e da Praça" nos Jornais

1- N' O Primeiro de Janeiro
2- No Jornal de Notícias -
Da parte de Paulo Araújo um comentário sobre esta notícia e o título que o JN resolveu destacar: «Ainda sobre a contestação ao projecto, o JN de hoje titula em destaque que "providência cautelar também é hipótese". Gostaria de deixar claro que, nas declarações ao JN tal como a outros orgãos de comunicação social, me abstive de anunciar quais vão ser as nossas próximas iniciativas. Não excluí a hipótese que o jornalista pôs em título, assim como não afastaria outras hipóteses igualmente razoáveis. Mas, nesta fase em que as estratégias ainda não estão claramente definidas, seria prematuro fazer qualquer anúncio.»

Frase #21 -"Não há uma alteração profunda..."

«Não há uma alteração profunda. A forma de reconstruir à superfície foi deixada em aberto, e o objectivo era, tanto quanto possível, manter as características básicas [da Avenida dos Aliados]»
afirma Jorge Morgado, do gabinete de comunicação da Metro numa entrevista a Ana Correia Costa publicada no JornalismoPortoNet: Metro garante legalidade do projecto (11.11.05)

Como? Pode repetir? Não há uma alteração profunda?!
Realmente dá mesmo para acreditar no que esta gente diz!

“Em defesa da Av. dos Aliados e da Praça da Liberdade”

Hoje, Sábado, 12 de Novembro, às 11:00 na Praça da Liberdade, Porto

Não falte! A História faz-se hoje!

Foi anunciada a execução do projecto que propõe eliminar todos os jardins e pavimentos em “calçada portuguesa” da Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade, apesar do desagrado já expresso pelos cidadãos.

O projecto prevê transformar este lugar de encontro e passeio em mais um espaço inóspito, sem considerar, nem de forma contemporânea, qualquer jardim ou pavimento em “calçada portuguesa”.

Os dirigentes eleitos não são infalíveis no seu entendimento do que é o interesse público e por isso existe legislação que obriga a consultar a população antes da realização de obras e investimentos públicos com impacto relevante no ambiente ou nas condições de vida das populações.

A “Reunião na Avenida” é mais uma tentativa de chamar à razão os responsáveis por esta intervenção, que não deve prosseguir sem consulta pública.

Contamos com a sua presença, quer chova ou faça sol!

Porquê agora?

À pergunta deixada aqui na caixa dos comentários "mas a manif não deveria de ter sido antes de começarem a fazer as obras?" respondo o seguinte:
Temos tentado não lhe chamar manifestação, sermos mais modestos e realistas e chamar a esta inicativa concentração... Houve até quem sugerisse que se fizesse apenas uma conferência de imprensa. Mas resolvemos ir um pouquinho mais além e optámos por uma concentração, uma reunião. E com efeito vamos exprimir, "manifestar", desta vez também simbolicamente no próprio local que querem modificar, «o nosso desacordo pelo modo como está a ser imposta à cidade do Porto, sem consulta pública, uma transformação radical do conjunto Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade, e exprimir o nosso desgosto pela perda patrimonial e descaracterização da cidade que o projecto determina. (...)»

Mas apesar de alguns jornais lhe chamarem manifestação, pela minha parte não nutro grandes expectativas, nem tenho ilusões sobre o número de pessoas que eventualmente estará presente, e não me preocupo demasiado, pois o que se pretende fundamentalmente é fazer falar do assunto - o que já está a ser conseguido- e aproveitar para informar e dar uma maior visibilidade a todos os passos entretanto efectuados com objectivo não só de "defender a Avenida e a Praça", mas também os nossos direitos como cidadão e portuenses. Informar, e exprimir a nossa perplexidade pelo aparente pouco empenhamento das instituições em dar resposta às nossas queixas.

Porquê só agora? Porque indiferentes a todos os apelos e ao facto do projecto e o processo estar a ser contestado e investigado, os responsáveis anunciaram que (desta vez é que era) iriam brevemente avançar com as obras. Não nos sentiríamos bem connosco próprios se neste momento não se fizesse nada, na própria Praça e na Avenida!

E porque não foi antes das obras começarem?
Como se deve imaginar não se vai de ânimo leve para uma"manifestação" (e obviamente temos muito mais que fazer)! Por isso temos optado pelas iniciativas que nos pareceram mais acertadas, previstas aliás na legislação, no sentido de se fazer cumprir a lei e a vontade de muitos portuenses, sempre na expectativa de que os apelos fossem ouvidos, compreendidos e que o diálogo se estabelecesse com quem de direito.

Há ainda um facto importante a acrescentar: quando as obras começaram as pessoas foram apanhadas desprevenidas e a pequena minoria atenta ao que se estava a passar tinha ainda esperança que o projecto fosse a consulta pública. Mas não foi. E nunca, nunca houve uma uma carta respondida, um satisfação dada, um esclarecimento concedido, um aviso respeitoso.
E ao contrário do que afirma um dos responsáveis (o Prof. Oliveira Marques que declarou que a apresentação pública do projecto não provocou contestação) logo que o novo "figurino" da Avenida e da Praça veio a público as primeiras manifestações de desagrado não se fizeram esperar (ver por ex. aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, etc.).
Atenta, a Associação Campo Aberto emitiu então um comunicado à imprensa (ver comunicados) e escreveu ao Presidente da Câmara do Porto, ao IPPAR e ao Provedor de Justiça .
Iniciaram-se recolhas de assinaturas. E a que este blogue apoiou não foi sequer a primeira: já mais de mil pessoas tinham subscrito um texto de protesto contra a descaracterização da avenida e da Praça. As pessoas foram-se juntando, unindo os seus esforços; outras organizaçoes não governamentais integraram o movimento dos ALIADOS e foi então organizada uma sessão pública com intervenções de especialistas, e publicitação do manifesto/ petição.
Na última sessão da Assembleia Municipal antes de férias, em fins de Junho foram entregues mais de 2500 assinaturas. Seguiu-se uma queixa ao Ministério Público . Em Julho enviaram-se mais de 5000 para a Assembleia da República o que levou a que se tivessem realizado as audições na Comissão Parlamentar (cujo relatório final está suspenso à espera das respostas por escrito do Presidente da Câmara!).
Mas como anteriormente indiquei pode ver-se aqui o que já se fez - e esta concentração/reunião tem justamente como um dos seus objectivos principais darmos a conhecer e divulgarmos estas iniciativas e mostrarmos que há quem se mexe, e quem se importe, e quem se sente profundamente afectado pelo que se está a passar.
E claro apelar de novo ao diálogo!
(espero ter respondido à resposta;-)

Aqui há Aliados!



Aliados em defesa da Avenida

Concentração é notícia

11.11.05

Monumento à autocracia

Palavras - Manuel António Pina (No JN)
«Siza Vieira e Souto Moura estão a fazer nos Aliados um monumento à autocracia. A autocracia já merecia um monumento no Porto!
Ora, um monumento à autocracia tem que ser cinzento (e, se possível, "sizento"), que é a cor do posso, quero e mando. E tem que obedecer à regra da autocracia, a uniformidade. Por isso, Siza e Souto Moura conceberam os novos passeios, a nova placa central e as novas faixas de rodagem da Avenida, onde até aqui reinava uma perigosíssima diversidade (até flores havia na placa central!), do modo mais uniforme que puderam granito cinzento, granito cinzento e granito cinzento. Coexistiam por ali, diversamente, uma Praça do General Humberto Delgado, uma Avenida dos Aliados e uma Praça da Liberdade; Siza e Souto Moura tornaram tudo numa coisa só: assim a modos que um Rolex "made in Taiwan". Dessa maneira, os portuenses sempre poderão ir a Paris sem sair de casa. E como a calçada à portuguesa é também excessivamente diversa e excessivamente portuguesa, decidiram fazer-lhe o mesmo que às árvores e às flores, arrancá-la e uniformizá-la. O Porto terá uma Avenida de uniforme "signé Siza". Para tudo ficar uniformemente perfeito, só falta obrigar os portuenses a pôr fato cinzento quando vierem os fotógrafos das revistas de arquitectura.»